A diretora da Associação Brasileira de Startups de Saúde Helen Mazarakis, em entrevista ao JOTA nesta semana, sentenciou: “Teleatendimento já é quase commodity. Quem não fizer, será esquecido”. Muito além da consulta a distância, hoje cresce a prática de telepropedêutica (que é a realização a distância de exames como ausculta pulmonar e otoscopia), telelaudo e teleinterconsulta. “Temos a telemedicina 2.0”, compara.
A tendência do uso de soluções inovadoras na saúde ganhou força durante o período da pandemia e caiu no gosto de pacientes. Os números deixam clara a rapidez na expansão. De acordo com a instituição de pesquisas Distrito, o número de health techs dobrou entre 2020 e 2021.
“Não se trata de maior comodidade para médicos”, disse Mazarakis. Para ela, as ferramentas existentes trazem maior oportunidade de acesso, sobretudo em locais onde há oferta menor de médicos especialistas. Os recursos também podem auxiliar a ter uma melhor gestão. “É fundamental. Porque um paciente bem tratado, retorna quando necessário. E o fluxo eficiente evita gastos desnecessários. É um caminho que todos vão acabar trilhando”, completou.
A realização de exames de diagnóstico a distância é feita por meio de equipamentos, que leem dados do paciente e registram resultados em uma plataforma, que pode ser acessada pela equipe médica no mesmo momento ou depois.
Mazarakis afirma que muitos dos aparelhos com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária têm acurácia de 95%, superior a de profissionais de saúde. O cuidado com o sigilo dos dados, afirma, também deve estar sempre presente.
“Dados em saúde são dados sensíveis, críticos. É preciso estar sempre preparado para garantir o sigilo, que informações sejam usadas apenas por pacientes. Mas health techs, como cresceram já neste ambiente, têm familiaridade com as providências de segurança. ”Instituições tradicionais, que se consolidaram num outro período, muitas vezes, completa a diretora, precisam “virar o barco”.
A mudança, no entanto, pode trazer resultados positivos. Coordenador de Inovação da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS), Wagner Dorneles da Silva, afirma que o interesse da entidade nesta área ganhou corpo em 2018. “A ideia era encontrar soluções para ajudar a Santa Casa a reduzir o déficit operacional”, conta.
Complexo formado por 9 hospitais e 1.200 leitos, 73% do atendimento da Santa Casa de Porto Alegre é voltado para o SUS. Dorneles da Silva, afirma, no entanto, que muitos dos procedimentos têm reembolso menor do que custos. “Os outros 27%, particulares ou de convênios, muitas vezes não conseguem compensar o déficit do atendimento do SUS”. Com isso, as contas fecham no vermelho de aproximadamente R$ 15 milhões mensais.
Desde que o centro de inovação entrou de fato em funcionamento, em 2019, o tamanho do déficit passou a se reduzir. “Conseguimos evitar em 2021, um custo de R$ 6 milhões. Ainda é pouco em relação ao déficit geral, mas é um começo.”
O centro não tem orçamento. As ações têm início com base em degustações de ferramentas consideradas promissoras, seja para gerenciamento, para experiência do paciente. “São testes que duram 30, 60, 90 dias. E, terminado o período, fazemos uma avaliação para verificar qual impacto das ferramentas.”
Desde que a atividade teve início foram analisados 42 contratos. Destes, 12 estão em andamento, cinco estão em processo de expansão para outras unidades do complexo, 6 foram desenvolvidos e 14, reprovados.
“Antes de iniciar a avaliação, os projetos passam por um filtro. Eles têm impactos mensuráveis? Podem reduzir gastos? Podem aumentar lucros? Melhoram a experiência do paciente?”
Assim como Mazarakis, Dorneles da Silva avalia que telessaúde veio para ficar. “E inovações. Precisamos sempre pensar em estratégias para encontrar novas soluções para problemas.”
Tanto Dorneles da Silva participam do Congresso da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), realizado entre 7 a 11 de novembro em São Paulo.