O Ministério da Saúde atrasará a campanha de multivacinação, prevista para maio. Agora, a nova previsão — com foco na poliomielite e no sarampo — é o segundo semestre, para que consiga normalizar os estoques de imunizantes e operacionalizar o planejamento. Só Acre e Amazonas devem iniciar no próximo mês.
No Amazonas, a ação deve começar em 13 de maio. Já o Acre deve ficar para o dia 29, por causa das enchentes. Segundo o diretor do Departamento de Imunizações, Eder Gatti, os estados foram escolhidos devido ao maior risco epidemiológico.
A prioridade são as cidades na fronteira com o Peru, dado o risco de reintrodução do vírus da poliomielite, e depois os municípios com baixa cobertura vacinal. “Essa é uma região que tem grande risco de ter surto em função de poliovírus. Vamos começar por esses dois estados. As datas foram pactuadas com as autoridades locais, mas podem sofrer alguma alteração”, afirmou Gatti.
O ministério, que aguarda a chegada de 8 milhões de doses da vacina contra pólio, deve finalizar o planejamento até 12 de maio. “Estava previsto para maio porque era quando nossos estoques estariam regularizados. O restante do Brasil precisa ficar para o segundo semestre, porque vamos precisar ter mais garantias com estoque, regularizar os sistemas de informação e fazer as pactuações”, completou o diretor.
O anúncio foi feito em entrevista à imprensa após a apresentação do relatório “Situação Mundial da Infância 2023: Para cada criança, vacinação”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), nesta quinta-feira (20/4).
Cerca de 1,66 milhão de crianças não tomaram nenhuma dose de vacina contra poliomielite de 2019 a 2021 no Brasil. O número é semelhante — 1,6 milhão — para a DTP, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.
De acordo com o estudo, o Brasil é responsável por 40% das crianças sem dose de DTP na América Latina, seguido pelo México, com 18%. Além das 1,6 milhão de crianças que não se vacinaram, outras 700 mil não chegaram à terceira dose de 2019 a 2021. As taxas de cobertura estão em queda desde 2015 e atingiram o menor patamar em 2021.
Já na pólio, 350 mil crianças não tomaram as três doses no mesmo período. A meta do Ministério da Saúde é vacinar de 90% a 95% das crianças.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse que a retomada da cobertura vacinal é um compromisso do governo federal, mas que é preciso ter adesão ativa da sociedade. “A vacina é um instrumento importantíssimo. (…) Temos que mudar esses números e tem que ser um compromisso nosso. Não podemos ficar inertes diante da situação apresentada”, afirmou.
A queda na confiança nas vacinas infantis caiu 10% no país em relação ao período pré-pandemia: a taxa de 99,1% caiu para 88,8%, aponta a Unicef. No Brasil, a redução foi maior em relação a homens a partir de 65 anos — na contramão de outros países, que viram maior queda em pessoas de até 35 anos.