MERCADO DE TRABALHO

Quais as habilidades demandadas para vagas em relações governamentais nas empresas?

Mercado é disputado por profissionais sênior com experiência especializada; remuneração superior acompanha movimento

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Crédito: Unsplash

O cenário de crise econômica e pandemia aumentou a demanda de empresas em estreitar relações com o poder público. A tendência é indicada pelo aumento dos orçamentos destinados às áreas de relações institucionais e governamentais nas empresas nos últimos dois anos. A maior atenção financeira a essas áreas, no entanto, não necessariamente refletiu na ampliação de vagas nas empresas, avaliam especialistas em recrutamento ouvidos pelo JOTA.

Mesmo com a movimentação recente, a estrutura nas empresas continua a ser enxuta e as suas posições disputadas por profissionais altamente especializados. “O mercado continua fechado e, apesar de a atuação em relações governamentais ter tido mais demanda, não vemos aumento da criação de vagas pelas empresas. Muitas deles investiram mais em contratar consultorias focadas nesse trabalho”, afirma André Bambini, especialista em recrutamento para a área jurídica da Robert Half, multinacional de recrutamento.

No período, ainda foi comum também as demandas por contato com legisladores e reguladores. “Na área jurídica, que é também a que mais forma profissionais de relações governamentais, setores tributários e trabalhistas passaram a desempenhar esse papel”, afirma Bambini. Além do direito, formações comuns para esses profissionais são jornalismo, administração, economia e relações internacionais.

As multinacionais costumam ser as que mais contratam profissionais para áreas estruturadas de relações institucionais e governamentais e costumam exigir desses profissionais atualizações da legislação e regulação brasileiras, especialmente em setores altamente regulados. Por isso, evidentemente, fluência em inglês é uma exigência indispensável para a maioria das posições.

Novas oportunidades, com maior abertura de vagas em diferentes níveis, costumam surgir em setores que lidam com novas regras ou que enfrentam a possibilidade de que eventual regulamentação inviabilize o negócio – caso das plataformas digitais, por exemplo. “Hoje, empresas que lidam com mudanças na regulação financeira ou inovações como o open banking têm potencial para quem tem expertise nesse campo”, aponta Gabriel Adib, gerente da divisão de recrutamento jurídica e tributária da consultoria Talenses, focada em posições executivas.

Transição de carreira

Com o número restrito de posições, profissionais sênior são mais valorizados. A média de tempo de experiência dos profissionais na liderança em grandes empresas é frequentemente superior a outras áreas, ultrapassando 15 anos. Os salários de gerentes de relações governamentais em empresas variam de R$ 18 a R$ 22 mil; analistas pleno podem receber de R$ 6 a R$ 10 mil, segundo Bambini, da Robert Half.

“O profissional médio, especialmente com carreira jurídica, acumulou relações ao longo de anos até virar a chave para se tornar um negociador com stakeholders“, explica o recrutador. Porém, a transição de carreira nem sempre é natural ou simples, especialmente para profissionais do setor público.

Além das habilidades técnicas acumuladas por esses profissionais, o discurso precisa estar alinhado ao desejado pelas empresas – foco em metas, por exemplo. O especialista recomenda para profissionais jurídicos em transição a aproximação com áreas que lidam, de forma lateral, com negociações com o poder público.

Profissionais do corpo técnico de agências reguladoras têm mais oportunidades, em comparação com quem empenhou carreira em posições comissionadas e políticas. Para essas últimas, ainda há certo receio em contratar, levando em conta gestão de risco. “As empresas priorizam quem já tem conhecimento muito específico em certas áreas e já mantenham relações. Mais difícil é transicionar entre setores muito díspares”, afirma Alexandre Benedetti, diretor da Talenses.

Entre as habilidades comportamentais, capacidade de negociações, construção de relações interpessoais e certo perfil comercial, com habilidade para “vender ideias”, continuam a figurar entre o que as empresas mais observam nas contratações. “O potencial de o profissional manter laços e ter boa interlocução com diferentes agentes, do poder público a associações de classe, é definidor para as empresas”, diz Maria Eduarda Silveira, fundadora da Bold HR, que oferece soluções a recrutadores.

Nesse aspecto, as mulheres, que marcam presença em carreiras que demandam comunicação, costumam ter esses diferenciais e têm crescido enquanto candidatas. Entretanto, no interior das empresas, os homens historicamente aparecem nas principais posições – em parte devido ao reflexo do campo político, onde homens brancos são figuras dominantes.