Apesar da nota divulgada nesta segunda-feira (4/4) em que o Palácio do Planalto e o Ministério de Minas e Energia dizem não terem oficialmente informados da desistência de Adriano Pires do comando da Petrobras, o consultor já comunicou ao governo sua intenção de desistir do cargo. Dessa forma, a nota negando que a desistência tenha sido formalizada é um indício de que o governo está tentando ainda equacionar a situação.
Nesse sentido, é importante lembrar da manifestação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em evento do JOTA hoje, no qual atacou as críticas de que Adriano Pires não poderia assumir a empresa por ter trabalhado no setor privado. Lira, que destacou não ter relação com o indicado, ainda ironizou ideias como nomear militares para esse tipo de função.
A surpreendente queda de Rodolfo Landim como presidente do conselho da Petrobras no fim de semana levantou dúvidas sérias sobre os rumos da empresa. Apesar da alegar que queria se dedicar ao Flamengo, a renúncia de Landim ocorreu porque ele não aguentou a pressão dos questionamentos sobre potenciais conflitos de interesse e problemas na Justiça. Nesse sentido, não são poucos no governo os que apostaram que Adriano Pires, que é próximo do ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia), faria um movimento semelhante.
Pires tem sido alvo de ataques internos da Petrobras, do governo (setores criticam duramente sua atuação na defesa de interesses do empresário Carlos Suarez, um dos fundadores da empreiteira OAS, e do chamado “brasduto”, na tramitação do marco do gás) e também da procuradoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O subprocurador-geral Lucas Furtado peticionou à Corte que tome providências diante de possíveis conflitos de interesse de Pires, que há 20 anos presta consultorias ao setor privado.
Apertado pelo tempo, o questionamento é se Bento Albuquerque tentará novas soluções de mercado ou se usará um recorrente expediente de buscar entre os militares a solução para seus problemas. Uma fonte próxima a ele destaca que, na hora do aperto, o titular de Minas e Energia sempre recorre aos quadros da Marinha, de onde é egresso, e pode acabar encontrando ali alguma solução.
Por ora, contudo, não há decisões ainda sobre o que fazer, mas Bento precisa correr. A assembleia da Petrobras está marcada para 13 de abril. A agenda de hoje do ministro foi no Rio de Janeiro, onde também houve eventos com o presidente Jair Bolsonaro.
É mais um capítulo na novela da Petrobras, alvo de interferências políticas, pelo menos verbais, de Bolsonaro. Como já mencionamos em outras análises, a troca de comando visava também a fazer ajustes na política de preços, para reduzir seus impactos aos consumidores. A tarefa é difícil de ser levada adiante, mas de fato poderia ser melhor executada por integrantes que conhecem melhor o setor.
É preciso lembrar que Joaquim Silva e Luna, de saída do comando da Petrobras, mudou a política, diminuindo a quantidade de reajustes. Nesse ano, ficou quase dois meses sem corrigir preços, até que fez uma forte elevação. Ainda assim, a defasagem ainda persistia. Nesse contexto, a dupla Adriano Pires e Rodolfo Landim também iria reforçar as pressões por medidas com impacto fiscal para mitigar os preços. No fim das contas, a única certeza é que a incerteza, já alta, vai aumentar ainda mais.