ECONOMIA

Marcos Lisboa: ‘temos que administrar um problema de racionamento da oferta’

Para economista, há um dilema de como evitar aglomerações sem paralisar produção de bens e serviços

Crédito: Insper
Crédito: Insper

“Temos um problema de oferta, um problema de um país que pode parar as atividades produtivas”, alerta o economista Marcos Lisboa. Para ele, ainda não é possível saber a dimensão dos impactos que o coronavírus vai trazer à economia e nem é possível ter como espelho crises anteriores. “Cada crise tem sua história, sua natureza peculiar”, diz.

O presidente do Insper avalia que há um dilema entre evitar aglomerações para conter o avanço do coronavírus e ao mesmo tempo não paralisar a atividade econômico.

Lisboa entende que o mais importante no momento é informar as pessoas sobre como agir, quais são os grupos de risco e quem, de fato, precisa procurar o hospital.

Segundo o economista, medidas monetárias ou de política fiscal não surtiriam grandes efeitos porque o problema é a produção. “O governo pode distribuir recursos, mas haverá escassez do que comprar. Então hoje nós temos que administrar um problema de racionamento da oferta”.

Diante dos impactos do coronavírus na economia, podemos trabalhar com uma expectativa de crescimento do PIB abaixo de 2% neste ano?

Eu tenho falado há um tempo que a economia brasileira tem muitos desafios para poder voltar a crescer de forma sustentável. Independentemente da crise momentânea, o país tem problemas estruturais que dificultam um potencial mais alto.

Agora temos essa crise adicional e severa, cujo impacto vai depender muito da reação da sociedade e do governo ao novo problema.

Qual vai ser o impacto disso na paralisação das atividades produtivas? Como se vai garantir o sustento das famílias que dependem do comércio? Como vai ser a logística?

Há muito mais dúvidas nesse momento do que respostas.

O fundamental é concentrar na ação do governo uma política pública para minorar o contágio, e nessa difícil administração entre reduzir o contágio em aglomerações, mas não parar drasticamente a economia.

As ações agora devem ser centralizadas em medidas monetárias, com atuação do Banco Central, ou em ações macroeconômicas?

Nenhuma das duas é relevante nesse momento.

Há pouco que se possa fazer na macroeconomia, seja na política fiscal ou na política monetária.

Temos um problema de oferta, um problema de um país que pode parar as atividades produtivas. Teremos um problema na produção de bens e serviços.

O governo pode distribuir recursos, mas haverá escassez do que comprar. Então hoje nós temos que administrar um problema de racionamento da oferta.

Como iremos lidar com a escassez da produção? Como vai se dar esse processo?

Ou seja, as soluções estão muito longe de uma política macroeconômica. O que se deve é administrar a política de oferta, de logística e de cuidados à população.

Em 2008, a crise era monetária e surgiu nos países ricos. Isso muda a maneira de se enfrentar a crise?

São dois momentos completamente diferentes.

Em 2008 houve um problema de crédito em alguns países desenvolvidos e a consequente dificuldade de liquidez nas principais economias, com efeitos que se desdobraram pelo mundo.

Agora não. Agora temos uma economia brasileira combalida, com uma série de problemas estruturais que vêm se acumulando ao longo de muitos anos. É uma economia que cresce pouco há décadas e que teve uma recessão severa há poucos anos. E agora precisa enfrentar essa crise, cujo tamanho e extensão são incertos.

Na história recente não tivemos um vírus com tamanha amplitude e que trouxesse tanto impacto na vida das pessoas, na rotina e na economia. Como pensar em medidas econômicas sem um exemplo no qual se possa espelhar?

Cada crise tem sua história, sua natureza peculiar, e é preciso agir com os instrumentos disponíveis.

Aqui temos uma situação em que é preciso evitar que esse contágio ocorra de forma acelerada por causa dos grupos de risco. Também há uma necessidade de maior informação por parte do governo aos cidadãos. As pessoas precisam ter melhor clareza de quais procedimentos tomar, quem tem que ir ao hospital, quem não precisa ir ao hospital, onde tem hospital disponível para atender, onde tem leito perto dos moradores caso precise.

É preciso administrar esse difícil dilema entre evitar aglomerações para reduzir a expansão do contágio e por outro lado não parar a economia, não parar a produção de bens e serviços. Tem uma administração difícil de ser feita aqui em tempos de escassez.

Se você fecha fábricas, se você interrompe a produção ou reduz demasiadamente a logística do país, haverá mais dificuldades para o acesso a bens e serviços.

O mais importante nesse momento é uma maior informação. Vemos muitas pessoas preocupadas com filhos, com adolescentes. É preciso esclarecer quais são os grupos de risco, quem tem que ir ao hospital. As pessoas acabam tomando medidas descompassadas, e ao invés de ajudar a minorar o problema acabam agravando-o.

Sair da versão mobile