Perspectivas setoriais

Indústria de alimentos quer mudança em prazos de validade para reduzir desperdício

Associação do setor demanda discussão regulatória para usar padrão internacional “best before” em produtos não perecíveis

Foto: Unsplah

O Brasil convive com a expansão da insegurança alimentar ao mesmo tempo em que crescem também as vendas de alimentos. Para mitigar essa disparidade, a indústria de alimentos defende mudanças na apresentação de prazo de validade dos alimentos – além das expectativas depositadas na reforma tributária em reduzir a carga de impostos da comida para os mais pobres.

O setor calcula que encerrará 2022 com 2,5% de aumento no volume de vendas, apesar de enfrentar o encarecimento de insumos como embalagens, óleo de palma e glúten de trigo diante da pandemia de Covid-19 e também da guerra na Ucrânia, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).

Os números são mais expressivos no segmento de refeições fora de casa: a previsão é de um crescimento real de 10,2% em relação ao ano anterior, superando os 3,2% de 2019 e após uma retração de quase um terço no faturamento observada no primeiro ano da emergência sanitária. Já as exportações cresceram 30% em vendas relação a 2021, no período de janeiro a outubro. 

Para 2023, a perspectiva é que o cenário se mantenha: “A indústria de alimentos tem expectativas positivas no setor de food service (restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos), o que pode alavancar as vendas no mercado interno, e com as vendas no varejo alimentar em expansão moderada, próxima à do PIB”.

Contudo, essas variações positivas não se refletem, necessariamente, em uma população com mais comida na mesa. A quantidade de pessoas que enfrentam algum nível de insegurança alimentar pode representar três em cada dez habitantes no Brasil – 61,3 milhões de pessoas estiveram nessa situação entre 2019 e 2021, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Para a indústria de alimentos, a redução de preços depende da reforma tributária de impostos do consumo. De acordo com estudo feito pela Abia com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a média da carga tributária sobre os alimentos industrializados no Brasil é de 23%, enquanto seria de 7% nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 7%. “É importante que eventual reforma tributária garanta a essencialidade dos alimentos e não onere o consumidor”, diz a Abia em nota enviada ao JOTA

Mudanças regulatórias

Outro preocupação seria o fortalecimento de estratégias para combater o desperdício de alimentos, desde o campo, passando pelas cadeias de produção e de abastecimento, até a mesa – lembrando que o setor é pressionado por metas da Agenda 2030 da ONU para reduzir as perdas. 

Nesse sentido, a indústria defende mudanças regulatórias no Brasil para utilizar a marcação de data de validade dos alimentos conhecida internacionalmente como “best before”, que indica o consumo preferencialmente antes do período sinalizado.

“Trata-se de um conceito aplicado em diversos países do mundo a produtos estáveis em temperatura ambiente (macarrão, conservas, grãos, sucos de frutas, leite UHT etc), que, por suas características, permanecem seguros para consumo após a data marcada na embalagem, desde que armazenados conforme determinação do fabricante e mantidos fechados”, explica. 

No país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável pela regulamentação das embalagens e da indicação de prazo de validade pelos fabricantes. Hoje, as regras são baseadas na Resolução 259/ 2002 da agência. 

Durante a pandemia e com a crise econômica, se disseminaram nas periferias de grandes cidades brasileiras os mercados conhecidos como “vencidinhos”, cujas prateleiras ofereciam sob grandes descontos os produtos próximos do vencimento – ainda dentro da validade e em condições de consumo no momento da venda.