“O profissional de RelGov não poder ser apenas um mestre de cerimônias”, afirmou Grazielle Parenti, VP Global de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da BRF, durante o II Congresso Internacional IrelGov. O evento, que acontece nesta quinta e sexta-feira (19 e 20/5), discute a importância da atuação e da especialização do profissional de relações governamentais (RelGov) e do diálogo com os diferentes agentes da sociedade.
Importância do profissional de RelGov
A primeira mesa, “RELGOV e as estratégias de negócios: savings, cost avoidance and value added”, tratou sobre a importância de uma boa reputação para as empresas. Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, afirmou que atualmente é fundamental saber como se navega pelas relações institucionais. Antes, para resolver um problema, a prática era acionar diretamente o gestor de uma empresa ou o governo, tática que não funciona mais. “É necessário saber como comunicar para evitar riscos reputacionais e financeiros”, observou.
Antonio Werneck, CEO da Bombril, destacou que “construir a reputação de uma empresa é um processo demorado que exige constância e confiança. E ela pode ser destruída a qualquer momento por um ato falho. Por isso a importância do profissional de RelGov”.
Outra atuação crucial, tratada pela segunda mesa “RelGov e as demais áreas de negócio”, é o direcionamento da ação a partir da atividade de RelGov. Daniel Aviz Bastos, executivo de Segurança da Informação da TOTVS, observou que, com base no que é desenvolvido pelo profissional de RelGov, é possível direcionar e classificar melhor as ações de uma empresa. “A interlocução usando o time de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) tem um valor incalculável, a partir dela diferenciamos o que é urgente do que é sensacionalista e conseguimos direcionar o foco”, afirmou.
Conhecimento sobre a área de atuação
“O profissional de RelGov não poder ser apenas um mestre de cerimônias” foi um dos temas discutidos pela segunda mesa. Questionado, Edison Terra, vice-presidente executivo da Braskem, destacou que “o ambiente de negócios está cada vez mais complexo e é papel da atividade de RelGov explicar os problemas aos vários agentes e ligá-los em busca de solução”.
Bastos argumentou que, quando o profissional entende a área de negócio com que trabalha e as políticas públicas relacionadas a ela, ele consegue alinhar e antecipar a estratégia da empresa.
Terra acrescentou ainda que é necessário que a atuação RelGov entenda as variáveis do problema e as explique para os diferentes stakeholders. “O profissional precisa estar preparado para encarar os problemas, tirar as dúvidas. É necessário conhecer os fatos e as emoções e explicá-los”, comentou.
Diálogo com diferentes agentes
Werneck explicou que um dos principais desafios do profissional de RelGov é fazer públicos diferentes convergirem em interesses compartilhados. Para ele, antes de pensar nos interesses individuais, é preciso apresentar uma estratégia que envolva todos os stakeholders. “Nenhum deles, individualmente, conseguiria resolver o problema. É necessário um olhar sistêmico para entender as dependências que cada agente tem um do outro. Não há uma solução única”, observou.
O CEO destacou ainda que, para que aconteça a articulação dos interesses, é necessário comunicar o problema com clareza, de maneira objetiva. O papel do profissional de RelGov é entender o problema macro, comunicá-lo aos agentes e uni-los para construir uma solução. “Recursos múltiplos precisam ser articulados de forma coerente. O bem comum deve prevalecer, a visão fragmentada não funciona”, afirmou.
Para Werneck, outro desafio é que métricas não se aplicam facilmente na área de RelGov. Os agentes, muitas vezes, pensam nos desdobramentos das ações e eles são impregnados pelos interesses individuais. “É necessário traduzir os desdobramentos em benefícios sociais e econômicos. Todos os agentes precisam entender a vantagem que possuem para agir”, observou.
Noronha argumentou ainda que “precisa ficar claro para o gestor que ele estará levando algum tipo de vantagem para a sociedade”. Ele acrescentou que, nessas relações, as empresas precisam dialogar e respeitar vários públicos, mesmo que divergentes.
“Quando uma política pública impacta diferentes empresas não há concorrência”, afirmou Bastos durante a segunda mesa. Ele usou como exemplo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para explicar a importância da união das empresas na negociação dos prazos de adequação de uma lei. “Precisamos nos unir para discutir prazos de adequação nossos e também dos nossos clientes, consumidores que também serão impactados”, destacou.
Guilherme Leser, diretor de RelGov do MSD, explicou como, na indústria farmacêutica, as negociações são voltadas para a implementação de políticas públicas e não para conflitos mercadológicos. “Nossa demanda é negativa, ninguém gosta de tomar remédios. Os médicos prescrevem baseados no melhor medicamento para cada paciente e não com base em marcas. Por isso a nossa competição é para que políticas públicas possibilitem a oferta dos melhores medicamentos”, explicou.