COP26

COP26: Setor privado anuncia aporte de US$ 130 trilhões em neutralidade climática

Brasil tem potencial de atrair recursos, mas é necessário que o cenário político-econômico se estabilize

Mesa na COP26 / Crédito: Jonne Roriz/ Nosso Impacto

Na COP26, o grupo Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), coalizão global de instituições financeiras líderes comprometidas em acelerar a descarbonização da economia, anunciou o compromisso de destinar US$ 130 trilhões de capital privado para transformar a economia em net-zero, ou seja, com emissões líquidas zero de dióxido de carbono e gases de efeito estufa.

O anúncio foi o mais ambicioso por parte do setor privado, que abrangeu mais de 450 companhias de 45 países, inclusive o Brasil, e tem o potencial de estimular as empresas a organizarem as suas cadeias de produção e de fornecedores para atraírem o investidor estrangeiro. Esse será um dos desafios para o nosso país, que precisa superar questões políticas e econômicas internas para se mostrar como um mercado em potencial para receber os recursos.

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Segundo Roberto Waack, um dos fundadores da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia e presidente do conselho do Instituto Arapyaú, é essencial que o cenário brasileiro melhore para que o país se torne interessante aos olhos dos investidores. Para ele, um dos pontos é o ambiente institucional conturbado, inclusive no sentido de ameaças ao Estado de direito, que não confere condições de negócios e de segurança jurídica. “Se este momento for superado, o Brasil representa uma oportunidade de investimento muito interessante. É uma relação ambígua. Há medo pela bagunça institucional e política, ao mesmo tempo em que as vantagens competitivas do Brasil são muito grandes”, disse.

Por mais que ainda seja necessário colocar ordem na casa, o compromisso dos US$ 130 trilhões é importante porque carrega um lado simbólico capaz de movimentar todo o mercado de negócios. Para Waack, mesmo se a COP26 não chegar a uma conclusão ao final das negociações, ela indicou que negócios associados a uma nova economia de baixo carbono deverão crescer muito e que eles vão representar grandes oportunidades para investidores. Por isso, o anúncio do GFANZ demonstra que este é um caminho sem volta. “É uma sinalização muito clara de que a economia mundial está caminhando para o mundo do baixo carbono”, disse.

Para as empresas brasileiras, alcançar esses recursos será importante para atingir as metas de neutralidade climática até 2050. Para a presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marina Grossi, as empresas que fizeram esse compromisso vão enfrentar um caminho que ainda precisa de recursos, metodologias e formas de ganhar os fornecedores. “Todo recurso que estiver carimbado para a neutralidade climática é extremamente importante. Isso mostra que elas estão sendo premiadas e que têm consonância com o Acordo de Paris”, afirmou. Além disso, Grossi destacou como esse tipo de investimento crescerá muito e em diferentes formatos, como títulos verdes e créditos de carbono. “Cada vez mais serão direcionados e com os carimbos certos, até que o diferente seja o contrário. Temos uma escala rápida de investimentos com esse carimbo”, disse.

De acordo com o coordenador do Portfólio de Economia Carbono Zero no Instituto Clima e Sociedade e membro do Painel Consultivo da GFANZ, Gustavo Pinheiro, as instituições financeiras, empresas, bancos, entre outros, que gerenciam os US$ 130 trilhões se comprometeram a atingir o net-zero antes de 2050. “Essas instituições vão internalizar o risco climático em suas metas e vão construir os caminhos para deixarem de fazer operações de investimentos ou de dívidas que sejam para grandes geradores de emissões”, afirmou.

No Brasil, a principal fonte de emissões é o desmatamento. No caso de uma trader de soja, por exemplo, ela terá que rastrear toda a cadeia de fornecedores. Para um frigorífico, será necessário desenvolver formas de acompanhar a origem da carne desde o nascimento do animal. Lançada há um ano, a GFANZ começou com US$ 25 bilhões em compromissos e saltou para os US$ 130 trilhões em um curto período de tempo. Por mais que os recursos ainda sejam uma promessa, há formas de avançar rapidamente nessa agenda. “Para implementar os compromissos, os investidores precisam demandar planos de transição das empresas, estabelecer métricas para monitorar os planos e acompanhar os resultados. A partir disso, as informações serão usadas para a realocação de ativos. Alguns investidores já estão colocando essa estratégia em prática”, disse Pinheiro.

Em consonância com Waack, Pinheiro entende que a mensagem mais importante é que os investidores mostraram para os governos que eles acreditam na transição. “Por muito tempo, a expectativa era que os governos liderassem, como no Acordo de Paris, e o mercado dizia que estava rápido demais. Agora, seis anos depois, os governos estão patinando e os investidores tentam mostrar que a transição vai acontecer e eles vão redirecionar os investimentos”, concluiu Pinheiro.