O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, tem como meta recuperar o grau de investimento para o Brasil até 2026. Em entrevista ao JOTA e a um veículo estrangeiro, ele reconheceu que o objetivo é ambicioso, mas ressaltou que seu alcance é crível.
“Isso é saudável. É claro que o não atingimento dela signifique não fomos bem-sucedidos porque tem que fazer alguns degraus. Dar dois passinhos já é um avanço substancial, um passinho já é avanço em relação à situação atual. E é nosso dever traçar uma meta agressiva. O Brasil precisa e agradece se isso acontecer”, afirmou. “Vamos criar as melhores condições possíveis para isso, depende ‘N’ fatores, inclusive do ambiente externo, mas acho que é possível e nosso dever buscar”, completou.
A definição de um novo arcabouço e a busca de uma retomada de crescimento mais robusto no Brasil estão associados a esse objetivo enunciado por Ceron.
Ele ressalta que isso também está relacionado a melhoras no ambiente regulatório, com reformas, como a tributária, para aumentar a produtividade da economia e o PIB potencial, que também são observados pelas agências de classificação de risco.
“Um bom arcabouço fiscal, combinado com uma reforma tributária adequada e outros instrumentos, o horizonte de crescimento da economia brasileira a gente tem condições de forma crível de chegar em condições recuperar o grau de investimento, que é importante para reduzir custo da dívida, para investimentos, para potencializar crescimento a médio e longo prazo. Não estamos tão longe como parece de voltar a esse patamar, se tomarmos as decisões corretas”, completou.
O Brasil hoje é considerado um país de “grau especulativo” pelas agências de rating, o que significa uma maior percepção de risco de insolvência. Ceron destacou que a retomada do “grau de investimento” pode reduzir o custo da dívida em dois pontos porcentuais.
Alongamento da dívida
O secretário do Tesouro defendeu o alongamento da dívida pública. “A dívida tem uma composição ainda tem peso de curto prazo que entendemos ruim. Se a gente conseguir ao longo do tempo alongá-la, a gente ajuda, desassocia da política monetária com impacto na dívida. A política monetária mais restritiva afeta parte relevante da dívida no curto prazo e isso é um grande problema. O alongamento da dívida com títulos prefixados ou de mais longo prazo com taxa fixa (NTN) ela retira um pouco essa pressão da política monetária de curto prazo no custo de financiamento da dívida”, afirmou.
Ele ressaltou que esse processo passa por fomentar o aumento da poupança de longo prazo no Brasil e também a atração de investidores estrangeiros, que nos últimos anos reduziram sua presença no perfil da dívida local.
O secretário explicou que seu intuito é que a dívida pública tenha “naturalmente” condição de rolagem mais saudável. “É inegável, temos a maior taxa de juros real do mundo, o perfil da dívida não é longo da forma que seria saudável, mas se vem trabalhando para que isso seja feito de forma sustentável”, disse, após apontar que neste momento não está na pauta dele discussões sobre atuação na parte longa da curva de juros em situação de estresse na economia e no mercado.
Ceron mostrou interesse em fazer avançar a ideia que já estava em estudo no Tesouro de uma emissão externa de títulos vinculados à agenda ESG (ambiental, social e governança corporativa). Segundo ele, esse instrumento pode ajudar as empresas locais acessarem o mercado internacional na busca de recursos vinculados a essa agenda.
Ele explicou que a emissão ESG estaria vinculada diretamente a projetos da pauta ambiental, por exemplo, e não para rolagem de dívida simplesmente. “Mas o mais importante é criar um mercado e fazer a precificação para que empresas possam acessar o mercado externo com essa referência do título soberano brasileiro”, afirmou.