Pandemia

Quarentena ou normalidade? Ajustando a comparação

O status quo é um cenário com pandemia

Colectivo 2+/Carlos Vera M./ Fotos Públicas

Um falso dilema tem sido colocado em grupos de Whatsapp e em círculos especializados: qual o cenário mais custoso – quarentena, com milhares de desempregados, ou retomada das atividades, com o isolamento apenas dos grupos de risco?

Pois bem: quais cenários, de fato, estão sendo comparados?

A racionalidade prega que as alternativas de ação sejam comparadas a partir de seus impactos esperados – negativos e positivos – e que se decida pelo cenário com menor custo. Os cenários são comparados a uma terceira alternativa: não adotar nenhuma medida e manter o status quo, o chamado cenário de linha de base.

O primeiro cenário é o fechamento das atividades econômicas para possibilitar as medidas de isolamento recomendadas pela OMS. Nesta hipótese, o fechamento é adotado para priorizar evolução “sustentável” da pandemia. Os impactos negativos seriam a queda do PIB e o aumento do desemprego. Já o benefício seria evitar mortes adicionais por sobrecarga do sistema de saúde.

O segundo seria o controle pontual da propagação, com foco nos grupos de risco, sem fechamento de atividades. O benefício da alternativa, se corretamente implementada, seria o mesmo: menos mortes. Este cenário elimina os custos adicionais relacionados ao fechamento das atividades econômicas. Sua implementação, no entanto, é complexa, e o risco de falha é elevado.

Temos, então, dois cenários. Mas com qual cenário de inércia eles precisam ser comparados? Qual é o status quo? É aqui que mora a confusão.

O status quo não é a vida como ela era. O cenário de linha de base, com o qual se comparam as alternativas de ação, tem a presença da Covid-19. O status quo é um cenário com pandemia.

Este cenário já prevê enorme queda da atividade econômica mundial. A Standard & Poor’s [1] revisou para baixo todas as estimativas de crescimento da Ásia e Pacífico, incluindo a Coreia do Sul, inspiração do isolamento vertical. Antes de a Covid-19 chegar ao Brasil, a equipe econômica já falava em revisão do PIB, em função das expectativas do impacto do vírus na economia mundial.

Isso significa que a crise é inevitável. A queda do PIB já era esperada e, com a chegada do vírus ao Brasil, a queda será maior. A desvantagem de uma quarentena forçada com relação a uma intervenção vertical deve ser avaliada a partir da revisão dos indicadores econômicos, considerando o novo status quo: a chegada da Covid-19 ao Brasil e sua disseminação mundial.

A pergunta correta, portanto, não é o impacto da paralisação das atividades em uma economia em recuperação. A pergunta deve ser: qual o impacto adicional da quarentena, considerando a retração da economia mundial causada pela pandemia, que também atinge o território nacional?

Além disso, como confiança é fundamental na recuperação da economia, qual é o custo de sua perda pela omissão do governo central? Será que este cenário de intervenção cirúrgica e confinamento restrito, de difícil implementação, é atrativo? Fazer a pergunta correta é começar a encontrar a resposta.