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Qual é o papel fundamental da governança corporativa?

Os desafios diários da governança para a sustentabilidade das áreas de negócios de uma empresa

governança, leniência
Crédito: Pixabay

Mais do que nunca, é tempo de se falar em governança. A palavra “governança” no novo dicionário Aurélio significa o ato de “governar”, ou seja, dirigir, conduzir, regular o andamento de alguma coisa. Assim, governança, compreendida em seu sentido e alcance atual, significa o ato de governar, determinar os rumos, dirigir, uma entidade.

Em uma estrutura de grande envergadura e magnitude, bem como em uma empresa de pequeno porte e familiar, o papel da governança corporativa é fundamental. E aqui recordo a afirmação de Wodzinski[1] que entendo crucial para um melhor entendimento desse conceito: “Em síntese, gerir é garantir que fazemos certo as coisas, enquanto governar é garantir que fazemos as coisas certas”.

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)[2], as boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum: ou seja, com perenidade e sustentabilidade, em qualquer que seja o ramo da empresa e para quem e para o que se desenvolvem seus produtos e serviços.

Mas por que pregar essa necessidade de maneira tão veemente no atual momento de nossa sociedade? Trato aqui, na verdade, da responsabilidade e função social das empresas em nossa sociedade, como meio gerador de empregos e riqueza, como gerador de impostos e porto seguro de milhares de famílias. É inegável o compromisso das nossas empresas como eixo motriz da nossa economia e da nossa sociedade, e nesse interim, se destaca também o papel da governança corporativa na busca da organização dessas companhias para manter a sua longevidade e propagar efetivas melhorias de ordem econômica e social.

A resposta à minha provocação se encontra na própria razão de ser da instituição da governança corporativa em si, que é, diante da complexidade cada vez maior das entidades que se quer reger, organizar, ordenar e sistematizar seu funcionamento, trazendo transparência e objetividade para o seu funcionamento.

Na mais diversa literatura acerca do tema, tanto no que diz respeito à origem da governança, quanto relativos a fatos que ocorreram para a sua expansão e para a sua consolidação como cultura perene das organizações, nos remete a momentos históricos de retomada de crescimento econômico. Cito, como exemplo, o momento pós-crash da Bolsa de New York em 1929 e, também, o período pós-guerra em 1945 com a implementação do Plano Marshall, que fomentou centenas de empresas na Europa, exigindo-se o mesmo aumento da complexidade administrativa e financeira das instituições que já se fazia comum nos Estados Unidos.

Já em 1992, em uma Inglaterra vinda de uma forte recuperação econômica no pós-Tatcher, mas com vários escândalos contábeis sendo revelados mundo afora, adveio a primeira codificação do tema. Com o Relatório Cadbury[3], considerado o primeiro manual de boas práticas de governança corporativa do mundo, as empresas passaram a ter uma diretriz para aquele momento de crescimento exponencial das economias, mantendo-se diligentes em seu propósito.

Há que se observar que sempre há impulso para a governança em momentos de retomada econômica, que acaba por exigir das companhias uma forte organização.

Aqui no Brasil, atualmente, vivemos um momento peculiar em nossa sociedade, momento que não é diferente daquilo que outros países já visitaram, como polarizações e instabilidades políticas. Contudo, esses momentos passam e as empresas ficam. Ou pelo menos é assim que desejamos, não é mesmo?

Quem gera riqueza e empregos, quem é o eixo motriz da economia, fica. E nós precisamos, mais do que nunca, da segurança nas relações das empresas com os seus colaboradores, com os seus investidores, com os seus respectivos órgãos de controle e reguladores e com todos aqueles que sejam relevantes para essa relação. E é aí que a importância da governança corporativa que exaltada no começo do texto entra.

Sou filha de pais empresários, e para ser ainda mais prática: já fui empresária no meu primeiro emprego, sim! E isso porque meus pais entendiam que ser empresário em nosso país é a melhor forma de alguém aprender as diferentes nuances do mundo corporativo, como por exemplo, a de se relacionar com diferentes stakeholders do processo: clientes, fornecedores, sócios. Tudo que tento explicar aqui, na verdade sempre fez muito sentido na prática mesmo sem ter a teoria, que a título do exemplo acima, sequer conhecia os conceitos e aplicabilidade do que estou pregando nesse momento. Assi, como já afirmado, a governança, a organização, a garantia do que é certo, de fazer a forma certa, pode ser destacada em quaisquer empresas e de quaisquer portes.

Com os seus princípios de transparência, equidade, responsabilidade e, principalmente, permeando o ambiente corporativo com o sentimento de pertencimento que o “accountability” traz, é que traremos a robustez e a organização necessárias para que nossas companhias sigam fortes e perenes na consecução de seu principal papel para a sociedade, trazer o bem comum, prosperidade, acolhimento e felicidade.

E reforçando que, quanto maior aculturamento do conceito, mais difundido veremos a praticidade da governança corporativa, que, formalmente, de acordo com o IBGC[4], dispõe ser “o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”.

Como consequência dessa aplicação, podemos destacar que as boas práticas facilitam o acesso a recursos e contribuem para a longevidade das organizações; as boas práticas de gestão convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização; bem como, envolve os relacionamentos entre proprietários/associados, reunião de sócios, diretoria, ou, até mesmo conselho de administração e órgãos de controle (para aquelas organizações maiores).

Por aqui, o meu compromisso como Diretora de Governança Corporativa de umas das maiores empresas do nosso país, é avançar sempre no quesito governança, trazendo segurança para nossos executivos, transparência para o mercado e acionistas, e, nos mantemos, incansavelmente, na constante busca do necessário aperfeiçoamento e conhecimento. Certamente é o mesmo compromisso que os colegas que exercem esta função, em outras organizações, também possuem.

Sigamos todos juntos nessa missão, valorizando o papel fundamental da Governança em todas as nossas instituições, recordando, por fim, de uma síntese de Célia Silvério[5] que entendo perfeitamente coaduna com meus princípios e valores pessoais:

“Governança Corporativa poderia ser resumida numa tríade: processos, pessoas e resultados. Porém, a GOVERNANÇA somente acontece, de fato, quando as PESSOAS estão absolutamente envolvidas: conhecem, acreditam, influenciam, executam e agem pelo exemplo”. (grifo nosso)


[1] (WODZINSKI et al, 2015, disponível em < https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/5008/1/M%C3%B3dulo%201%20-%20Contexto%20da%20Governan%C3%A7a%20de%20Dados%20na%20Administra%C3%A7%C3%A3o%20P%C3%BAblica.pdf>. Acesso em 06/11/2022

[2] Para maiores informações, acesse o site institucional do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, o IBGC, disponível em <https://ibgc.org.br/)>. Acesso em 18/10/2022.

[3] Disponível em <https://cadbury.cjbs.archios.info/report>. Acesso em 03/11/2022.

[4] Vide em https://www.ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa

[5] Vide página https://www.academiaceo.com.br/series/executivos/celia-silverio

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