
A pianista, compositora e professora Lynne Arriale começou a atrair a atenção da crítica especializada em 1993, quando tinha 36 anos, e venceu a International Great American Jazz Competition. Entre 2002 e 2011, a virtuose do teclado consolidou o seu prestígio numa série de seis álbuns para a gravadora Motéma, dos quais três à frente de um trio com os renomados Jay Anderson (baixo) e Steve Davis (bateria).
No 15º registro de estúdio como líder – o segundo para o exigente selo holandês Challenge – ela está de volta às plataformas virtuais em dez peças de um programa de 45 minutos, sob o título de Chimes of Freedom. Essa sessão de estúdio foi gravada na Bélgica, ano passado, também em trio, desta feita com o baixista (e produtor) Jasper Somsen e o excelente baterista E.J. (Enoch Jamal) Strickland. A vocalista K.J. Denhart, americana de ascendência caribenha, atua como convidada nos dois últimos números da setlist: a faixa-título (4m55), de autoria de Bob Dylan, e American tune (5m45), de Paul Simon.
O novo álbum é apresentado como sendo “o pronunciamento artístico mais cheio de paixão” de Lynne Arriale, uma “reflexão sobre liberdade, diversidade cultural, e o seu desejo de que todas as famílias de refugiados possam encontrar um porto seguro inclusivo entre as nações democráticas do mundo”. Daí, certamente, a escolha do título Chimes of Freedom (sinos da liberdade) e do primeiro tema do programa, Sometimes I feel like a motherless child (4m50) – aquele pungente spiritual que remonta ao Século XIX.
Mas mesmo sem se levar em conta o “espírito” desse “pronunciamento”, o disco pode e deve ser apreciado em si, do ponto de vista puramente musical. Ou seja, em termos de técnica, inspiração melódica e concepção harmônica.
Os sete originais de Arriale são variados quanto ao andamento e ao timing. O de interpretação mais longa é Lady Liberty (5m 20), em tempo lento, com ênfase na melodia. O de menor duração é Reunion (3m50), bem vivo, marcado por um gospel feeling.
A seção rítmica do trio – com destaque para o baterista Strickland – é particularmente vibrante, bluesy e swinging em Journey (5m), assim como em The dreamers (4m20) e Million steps (4m55), este no molejo do bebop. A pianista-líder não esconde, sobretudo em Journey, a influência do recém-falecido jazz master McCoy Tyner no enfático e surpreendente uso da mão esquerda.
As outras duas faixas assinadas por Lynne Arriale são: The whole truth (5m10), também bluesy, e a bem melodiosa Hope (4m55), desenvolvida em tempo de lento para médio.
(As faixas Sometimes I feel like a motherless child, Journey e The whole truth podem ser ouvidas em: http://www.lynnearriale.com/
(Samples das 10 faixas em: https://www.prostudiomasters.