Jazz

Lee Konitz (1927-2020)

Saxofonista era o último sobrevivente do Birth of the Cool

Lee Konitz
O saxofonista Lee Konitz, vitima da Covid-19 / Crédito: Divulgação

“Lee Konitz, o prolífico saxofonista de jazz que manteve estilo e devoção singulares em matéria de improvisação ao longo de uma carreira de mais de 70 anos, morreu nesta quarta-feira (15/4), no Lenox Hill Hospital, Nova York, aos 92 anos. Seu filho, Josh Konitz, confirmou à NPR que a causa foi pneumonia relacionada ao Covid-19.

Ainda bem moço, Konitz participou ativamente de um dos mais celebradoregistros da história do jazz. Em 1949/50, integrou o Noneto de Miles Davis em três sessões que seriam reunidas no álbum Birth of the Cool (Capitol,1957). Konitz era o último sobrevivente daquelas sessões”.

Estes dois parágrafos abriram o obituário divulgado pela NPR (National Public Radio) no mesmo dia do falecimento do longevo, sempre criativo e produtivo jazz masterO último item da sua incrível discografia como líder, de mais de 150 itens, foi o álbum Old Songs New (Sunnyside), à frente do seu noneto (arranjos de Ohad Talmor) gravado em outubro de 2017. E que foi disponibilizado pela gravadora em dezembro do ano passado.

No meu livro Obras-Primas do Jazz (Jorge Zahar Editor, 1986) assim procurei situar o saxofonista no panorama do jazz (ainda) dito moderno:

Não foi por acaso que Lee Konitz participou das sessões gravadas pela Capitol, em 1949, e que foram marcos do jazz moderno: a ‘Birth of the Cool‘, de janeiro e abril; e a do quinteto de Lennie Tristano, de maio. Seu new sound puro, polido, cristalino – ideal para exprimir desenhos melódicos abstratos que preferiam as alturas do registro agudo do sax alto – já tinha sido reconhecido como uma alternativa atraente para o estilo abrasador de Charlie Parker. Suas concepções de tempo e harmonia ajustavam-se aos ideais musicais do noneto de Miles Davis e do quinteto de Tristano.

Mas Konitz – que à época tinha apenas 22 anos – não pode ser visto, simplesmente como um sobrevivente do nascimento do cool jazz, ou como um dos dois ou três portadores da mensagem de Tristano. Embora respeitando a essência dos ensinamentos de Tristano, Lee Konitz é um discípulo emancipado da sua escola, como provam os registros fonográficos de uma obra sempre em desenvolvimento que tem, ainda hoje, brilhante curso”.

Da sua discografia a partir da década de 1970 merecem realce os registros do seu noneto para a Chiaroscuro (Nonet, 1977) e a Steeplechase (Yes, Yes, 1979); do New Nonet (OminiTone, 2005), com arranjos de Ohad Talmor; e Live at Birdland (ECM), gravado ao vivo no clube de Nova York, em 2009, num dream quartet com o pianista Brad Mehldau e os já falecidos Paulo Motian (bateria) e Charlie Haden (baixo).

Ouça ao LP Birth of the Cool:

(Samples de Old Songs New em: https://music.apple.com/us/album/old-songs-new/1483124344 )