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Richarlison ou Deborah Secco: quem é mais ESG?

Ambos levantaram a bola de temas incluídos nesta sigla por razões opostas

Richarlison Deborah Secco
Looks da atriz Deborah Secco para comentar a transmissão da Copa. Crédito: Reprodução/Instagram

De um lado, um ídolo do esporte adorado pelos brasileiros: o futebol. E, além de fazer gols, ele manda super bem fora dos campos, com uma agenda de valores estampada nas redes sociais atrelada a causas sociais e à diversidade de gênero. Do outro, uma atriz com uma carreira consagrada na TV e marcada por um forte apelo sensual, que se aventura no universo dos comentaristas esportivos.

Richarlison levou para a Copa a sua marca. Deborah Secco, também. Um joga, a outra comenta. Não como especialista, mas como leiga que é apaixonada por futebol, como ela mesma se declarou recentemente. Aos 25 anos, ele é da geração Z (aquele grupo de pessoas que já nasceu conectado e tem muito mais facilidade de se relacionar virtualmente do que pessoalmente). Débora, aos 44 anos, representa a geração X, que curtiu e aprendeu a conviver com os avanços tecnológicos, mas ainda se vê como conservadora diante de tantas transformações sociais.

Os dois ganharam destaque na estreia do Brasil nesta Copa do Mundo de 2022, no Qatar. Richarlison lacrou com dois gols em campo e puxou o debate sobre a chamada agenda ESG, uma sigla que envolve ações ligadas ao meio ambiente, à diversidade, inclusão e causas sociais e à ética e transparência. O sucesso dele dentro do campo deu destaque ao posicionamento nas redes sociais sobre casos de violência contra mulher, racismo, problemas ambientais e, claro, pelo carisma.

Deborah também causou ao aparecer para fazer comentários num programa de TV com os looks ousados, numa versão sou-dona-de-mim-e-do-meu-corpo. Gerou polêmica sobre a sexualização feminina. A ele, elogios. A ela, críticas? Mas por que se ambos personificaram uma agenda em franca expansão?

Só para trazer alguns números:

  • i) estima-se que a temática ESG movimente mais de US$ 35 trilhões no mundo todo e que chegará a US$ 53 trilhões em 2025;
  • ii) atraia US$ 1 a cada US$ 3 investidos globalmente;
  • iii) está como tema de prioridade máxima na mesa de 48% dos CEOs brasileiros, segundo levantando do IBM Institute for Business Value (IBV);
  • iv) faria mais da metade dos consumidores pagar mais caro por produtos e serviços com responsabilidade social e ambiental.

Ambos levantaram a bola de temas incluídos nesta sigla ESG por razões opostas, mas, talvez, o feito mais importante seja o mesmo: trazer à tona uma discussão sobre “percepção”. A forma como você percebe algo, como você olha e se dispõe a julgar faz toda diferença.

E quando tratamos de ESG, isso nunca foi tão verdadeiro. Afinal, a sexualização feminina está em Deborah que usa determinado look porque gosta e deve se sentir bem e bonita ou em quem a olha e a vê como mulher objeto? Deborah destruiu a imagem de empoderamento feminino ao sensualizar na TV e nas redes? Será que essa visão é a mesma de quem, no mundo corporativo, acredita que a “mulher-macho” é a representação da executiva bem-sucedida? Essa postura nos permite avançar no debate de questões tão relevantes para a sociedade moderna?

A resposta a essa reflexão deixo para você. Lembrando que é importante atentar para os vieses inconscientes, aquelas crenças que carregamos conosco por gerações sem necessariamente termos ciência, mas que podem reforçar estereótipos.

E aproveitando aqui a provocação, recomento o filme “O closet”, que completou 20 anos e nunca foi tão atual. Na comédia francesa, o ator Daniel Auteuil é considerado por todos ao seu redor “um nada”. Sem graça, divorciado e prestes a ser demitido, ele aceita o conselho de um vizinho para fazer uma fotomontagem assumindo uma falsa homossexualidade. Com isso, a empresa não o demitiria por medo de protestos e retaliações.

Na cena em que os personagens conversam sobre como ele deveria se portar no dia seguinte na empresa, Auteuil vacila dizendo que não saberia encenar o papel e seu vizinho retruca dizendo que ele não precisaria fazer nada. Bastaria ser ele, o mesmo de sempre. A percepção do outro é que daria o tom muito mais do que o que ele fizesse. Para quem não viu, o filme traz ainda Gerard Depardieu no elenco #ficadica.

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