Indicado para presidir o BNDES, o ex-ministro Aloizio Mercadante tentou mostrar nesta quarta-feira (21) a empresários e banqueiros que comandará a instituição de fomento com mais moderação do que as experiências anteriores dos governos petistas. Relatos de participantes do almoço com lideranças do setor privado organizado pelo Esfera em geral foram de uma boa receptividade às falas dele, especialmente à ênfase dada ao “não retorno ao passado” e de que não haverá aportes do Tesouro para alavancar o banco.
Mercadante também aproveitou o encontro para modular um pouco o discurso mais forte que o GT de Indústria havia feito sobre a TLP – a taxa de referência das operações do BNDES, criada nos anos Michel Temer e que eliminou os subsídios na atuação do banco. Ainda assim, ele cogitou a hipótese de se discutir uma versão mais flexível dessa taxa para o crédito às empresas de menor porte e uma TLP menor para as operações de prazo mais longo.
Fontes apontam que o ex-ministro gostaria de ver maior estabilidade na TLP, a partir de queixas de empresários sobre a alta de custos gerada pela escalada inflacionária (a taxa é composta por uma parcela fixa mais o IPCA) dos últimos dois anos. Apesar disso, depois de atiçar o mercado com a fala do GT há duas semanas, o tom e a linha agora é de evitar a polêmica e dizer que o assunto é da alçada do Congresso.
Como complemento no discurso antipassado, Mercadante foi taxativo em dizer que a TJLP, que era definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e que implicava um enorme subsídio, não voltará.
Mercadante também falou em melhorar a estrutura de captação de recursos, mesclando linhas de captação pelo banco para conseguir baratear as operações sem recorrer a subsídios, que ele enfatizou na reunião com empresários que não pretende se valer.
Outra mensagem que ele quis passar foi de que não pretende disputar terreno com os mercados de crédito e de capitais e que pretende levar o BNDES para operações com maior volume de risco e que, por consumirem capital, têm menor apetite das instituições do setor financeiro. Basicamente operar em lacunas e falhas de mercado e tentar desbravar novos mercados.
E também ressaltou a importância de se reforçar o papel de estruturador do banco, algo que se fortaleceu muito no atual governo e que agrada ao mercado financeiro. Os gestos ao setor privado também passaram pela apresentação de uma equipe que conta com diversas pessoas originárias do mercado e com experiência bancária.
Mesmo assim, é importante ressaltar que Mercadante entende que é papel do banco apoiar o desenvolvimento de diversos setores da economia, entre eles o industrial, que tem perdido espaço ao longo do tempo na estrutura da economia brasileira. E isso não é algo que o mercado financeiro gosta muito.
O futuro chefe do banco não detalhou o que pretende fazer em termos de aumento de desembolsos, mas uma alta relevante nos próximos anos é claramente um cenário com o qual se deve trabalhar, mesmo sem qualquer apoio de recursos do Tesouro.
Nesse sentido, é bom lembrar que o dado mais recente coloca o índice de Basileia do banco, que mede o grau de alavancagem da instituição, em 36%, bem acima dos 10,5% mínimos requeridos para ela e bem acima do praticado no mercado. Ou seja, há espaço para avançar em operações apenas com base na estrutura atual de capital próprio.
Entre o discurso que tenta ser amigável ao mercado e de não retorno ao passado e a prática de um banco que deve ser bem ampliado, só o tempo dirá qual o grau de real convergência entre os dois. De qualquer forma, o pragmatismo demonstrado no discurso é um sinal importante.