Termina a semana e, com ela, a temporada de transferências partidárias, renúncias e desincompatibilizações. Foi uma semana turbulenta e com surpresas. A principal delas, no quadro nacional, foi a inesperada mudança de partido de Sergio Moro, que saiu do Podemos para ingressar no União Brasil. E, de quebra, com o ex-juiz da Lava Jato retirando sua candidatura a presidente para, em tese, buscar uma vaga talvez na Câmara dos Deputados.
Moro era o candidato da chamada “terceira via” melhor posicionado nas pesquisas. Ele se afasta agora, mas ainda sonha com a possibilidade de voltar à corrida presidencial em julho, quando as convenções dos partidos vão definir de verdade quais os candidatos ao Planalto.
É somente em julho também que a gente vai saber efetivamente se João Doria será o candidato do PSDB. Doria renunciou ao governo de São Paulo depois de tentar uma manobra de última hora para tentar arrancar do partido um compromisso mais sólido com a sua candidatura, muito combatida internamente, mesmo após a vitória nas prévias.
Como se sabe, o ex-governador ameaçou quebrar o acordo que tinha com os tucanos e ficar no cargo para atrapalhar as pretensões do partido, mas no final, acabou deixando o Palácio dos Bandeirantes após receber uma carta do presidente do PSDB, Bruno Araújo, que o reconhece como candidato do partido a presidente.
O saldo do episódio, contudo, não parece muito animador para Doria, que vai conviver com a sombra de Eduardo Leite, que também renunciou ao governo gaúcho, até o meio do ano. Leite é o nome preferido pela maioria dos dirigentes do PSDB e partidos aliados para compor uma chapa de convergência do centro e essa disputa interna tende a permanecer, jogando mais incerteza sobre a chamada terceira via.
Com os percalços da terceira via, quem comemora são os líderes nas pesquisas, Lula e Bolsonaro.
O presidente, com uma ligeira melhora na aprovação popular e também nas intenções de voto, trocou 8 ministros e acabou vendo sua base no Congresso ficar ainda maior com a janela de mudanças de legenda. Seu partido, o PL, é o maior vitorioso desse período, aumentando expressivamente sua bancada e montando palanques em vários estados, na maioria deles, em acordo com o PP e o Republicanos, que integram o centrão.
Bolsonaro espera herdar pelo menos uma parte das intenções de voto de Moro, a partir da sua retirada temporária, e os operadores políticos do Planalto, mais entusiasmados, acreditam que as próximas semanas possam trazer até um empate técnico com Lula nas pesquisas. Isso deixa Bolsonaro mais confortável a ponto de retomar um tom mais duro no embate com o Supremo, como ficou claro no discurso em que ele mandou os ministros “calarem a boca” em pleno dia em que o Ministério da Defesa comemorou os 58 anos do golpe militar.
Lula, por sua vez, dá sinais de que vai moderar um pouco o discurso de olho no esvaziamento do centro. Sua equipe econômica de campanha se aproxima de nomes consagrados pelo mercado, como Pérsio Arida, pai do plano real. E nos discursos começa a reaparecer o “Lulinha Paz & Amor” na tentativa de evitar que esses eleitores de centro que ficam sem saber se haverá ou não terceira via migrem totalmente para o lado de Bolsonaro.
As análises completas de Fabio Zambelli, analista-chefe do JOTA, sobre a semana para o governo estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) às sexta-feiras.