A semana foi marcada pelo tarifaço, o maior reajuste de combustíveis das últimas duas décadas no Brasil, elevando em até 24% o preço da gasolina, diesel e gás de cozinha. É uma bomba para o governo Bolsonaro. E ela cai exatamente no momento em que o presidente vem recuperando sua aprovação popular e melhorando suas intenções de voto.
Ainda que o governo tenha um discurso pronto e tente se desvencilhar da responsabilidade política pelo aumento, não adianta. É o presidente, que é controlador da Petrobras, que tem que arcar com o ônus político. Ele alega que não interfere na empresa, mas o eleitor comum não compra essa narrativa.
Se piorou no bolso, o culpado é o governo. Pode-se tentar culpar governadores, por causa do ICMS, e isso faz eco em determinada parcela do eleitorado. Mas o impacto maior é para o Executivo Federal.
As perguntas fundamentais para Bolsonaro são as seguintes: a escalada de preços vai continuar? Qual o efeito na inflação e no crescimento da economia no ano eleitoral? Diante dessas questões, surge uma terceira: o governo vai conseguir adotar medidas que minimizem esse drama do consumidor?
O cenário evidentemente favorece adoção de medidas de curto prazo e mais populistas, como a concessão de subsídios temporários para segurar os preços.
O voto econômico é decisivo numa eleição e o presidente precisará agir para desfazer essa percepção de que as coisas estão piorando, mesmo que se possa alegar que estamos em guerra e durante uma pandemia. Esses fatores excepcionais ajudam a explicar, mas não funcionam como justificativa eleitoral. Principalmente porque os adversários já subiram no palanque para atacar, o que tende a aumentar nas próximas semanas.
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E a Petrobras sempre é um prato cheio para a campanha presidencial. Lula, que lidera as pesquisas, tem uma mensagem pronta para esse assunto, que acaba sempre remetendo ao que ele chama de “autossuficiência” na produção e no refino e ao controle de preços. Mas ele sempre precisa responder sobre os escândalos de corrupção na empresa durante as gestões do PT. Sergio Moro, por sua vez, tenta se posicionar como o juiz que investigou e prendeu os corruptos que desviaram milhões lá. Ou seja: é um tema que vai permanecer em evidência até outubro.
Entre os partidos, a novidade foi a desistência formal de Rodrigo Pacheco da sua candidatura à Presidência, que nunca foi pra valer, diga-se. Não há muito impacto na corrida eleitoral, mas abre caminho para a filiação do governador Eduardo Leite ao PSD. Mais uma tentativa do centro de encontrar um nome mais convergente para a terceira via.
O que é importante nesse movimento é que Pacheco, ao mergulhar na campanha por mais um mandato à frente da Mesa do Senado, pode melhorar um pouco o ambiente para o governo nas votações da Casa, que vinha muito hostil desde o ano passado e ficou quase insustentável a partir da instalação da CPI da Covid.
As análises completas de Fabio Zambelli, analista-chefe do JOTA, sobre a semana para o governo estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) às sexta-feiras.