Daqui a 195 dias — pouco mais de seis meses —, cerca de 147 milhões de eleitores decidirão quem será o próximo presidente. Quantos destes decidirão seu voto com base nos dados econômicos e números de sondagens eleitorais?
Alguns dos pesquisadores mais inteligentes que estudaram eleições em diversos países acreditam que é possível avaliar as chances de reeleição de um presidente observando apenas alguns indicadores-chave: a aprovação do presidente, o nível de desemprego, a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Conecte os dados e temos o resultado da eleição. Puro e simples, sem sentimentalismo.
Se eu fosse tentar inovar nessa área, eu incluiria também a variação no preço dos combustíveis até a eleição. O preço da gasolina é algo que a maioria dos brasileiros observa quase diariamente. Grande parte dos eleitores consome combustíveis em intervalos regulares, e mesmo aqueles que não possuem carro veem os preços anunciados. Isso possivelmente torna esse dado um dos indicadores econômicos de alta frequência mais visíveis dos eleitores.
Para testar essa teoria, comparei a posição de Bolsonaro com a dos últimos ex-presidentes seis meses antes da eleição em que disputaram a reeleição. Aqui está o que eu encontrei:
Não há razão para euforia no QG eleitoral de Bolsonaro — o mandatário está presidindo em meio a uma economia ruim durante um contexto internacional bastante incerto. Mas seus números de popularidade dificilmente serão piores do que os de hoje, e muita coisa pode mudar em seis meses.
Popularidade
A cerca de seis meses da eleição, de acordo com dados do consenso das pesquisas gerados pelo agregador do JOTA, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff tiveram índices de aprovação melhores, na linha dos 40%. Concorrer contra Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes, dois candidatos que disputavam o voto no campo da esquerda, certamente ajudou Fernando Henrique a vencer no primeiro turno em 1998. Nesse mesmo período político, Lula estava acima de 51% de aprovação seis meses antes de sua vitória em 2006 sobre Geraldo Alckmin.
O índice de avaliação positiva de 27% de Bolsonaro medido nesta semana está bem abaixo da média de todos os outros presidentes. É um índice medíocre, mas os números deste trimestre apontam para uma tendência de recuperação. A última pesquisa Quaest, por exemplo, mediu que entre os beneficiários do programa Auxílio Brasil a aprovação do presidente subiu de 23% para 31% de janeiro a março.
Desemprego
O desemprego era de cerca de 7,2% no fim de março de 2014 — quatro pontos abaixo do atual (11,2%). A taxa mais próxima dos 11,2% de hoje foi a de 10,4% de Lula em 2006 — mas esse número tinha sido inferior a 9,5% no ano anterior. Então, a tendência pode ter sido mais favorável para Lula. Além disso, a forma como se media o desemprego sofreu alterações ao longo desse período, o que pode também deixar a comparação deste indicador menos clara. O desemprego aferido em 1998 também era menor: 9,7% — 1,5 ponto percentual abaixo do atual.
Inflação
A inflação medida pelo IPCA acumulada nos últimos 12 meses era de 6,15% no fim de março de 2014 — 4,4 pontos abaixo do índice atual, que é de 10,54%. Em março de 2006, quando Lula se reelegeu, a inflação acumulada era ainda menor: 5,32%. E era ainda menor em março de 1998, quando Fernando Henrique venceu a eleição contra Lula seis meses depois.
Crescimento econômico
A taxa acumulada nos últimos quatro trimestres de crescimento do PIB favorece Jair Bolsonaro. No primeiro trimestre de 2014 a taxa de crescimento era de 3,2% — 1,4% menor do que o último dado disponível do período Bolsonaro. Vale ressaltar que a taxa de crescimento caiu rapidamente em 2014, atingindo 0,5% no último trimestre daquele ano. Talvez por isso, a diferença de votos entre Dilma Rousseff e Aécio Neves tenha sido a mais apertada desde a redemocratização.
A taxa de crescimento do PIB em 2006 também foi aferida em 3,2%, mas ao contrário do que se viu em 2014, o viés de crescimento foi positivo, atingindo 4% no último trimestre de 2006. A pior marca entre os presidentes que disputaram a reeleição foi de 2,8% no primeiro trimestre de 1998. O crescimento econômico continuou caindo nos trimestres seguintes, registrando apenas 0,3% no último trimestre daquele ano. Contudo, o cenário de crise financeira internacional parece ter sido crucial para ajudar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
O pior já passou?
Então, onde está Bolsonaro neste clube de presidentes? Sua aprovação está numa área obscura, é mais baixa do que a média histórica, mesmo considerando os presidentes de um e dois mandatos, mas pelas taxas de desemprego e inflação tão elevadas durante seu governo, é notável que sua aprovação não seja menor. Uma explicação para esse puzzle é que o crescimento econômico está mostrando alguns sinais de melhora em relação aos quatro trimestres anteriores, mas não está acontecendo rápido o suficiente para aumentar significativamente a confiança do consumidor.
A guerra entre Rússia e Ucrânia na Europa também já começa a pressionar a inflação. Embora a expectativa é que o desemprego continue caindo, é difícil imaginar que a queda seja muito forte até o dia da eleição. “O pior já passou” definitivamente não é o slogan de reeleição mais inspirador de um candidato.
Não é preciso uma bola de cristal para dizer que a eleição presidencial de 2022 deverá ser mais emocionante do que tem sido até aqui. Por qualquer dado histórico, Jair Bolsonaro é um presidente muito vulnerável. No entanto, ele resistiu à maior crise de saúde pública que o país enfrentou e a desafios econômicos difíceis sem que sua popularidade despencasse completamente. Se uma semana é muito tempo na política, seis meses podem ser uma vida inteira.