Os números a seguir são impressionantes. O Brasil é a quarta maior democracia do planeta em número de eleitores registrados. No momento em que escrevo esta coluna, a quantidade de eleitores registrados é de 148,3 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se comparado com 2018, quando registrava 147,3 milhões para o pleito daquele ano, percebemos uma evolução de 0,7% para a eleição deste ano. Todavia, o número final de eleitores aptos a votar em outubro só deverá ser divulgado em julho.
Com algumas pesquisas eleitorais divulgando seus resultados com recortes regionais, uma pergunta de enorme relevância é: em quais regiões do país a disputa eleitoral deverá ser travada?
A região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) segue sendo o maior colégio eleitoral do país, com 63,3 milhões de eleitores, o que equivale a 42,6% de todo o eleitorado brasileiro. A região Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) é o segundo maior colégio eleitoral, com 39,8 milhões de eleitores (ou 26,8% do total). Essas duas regiões somam juntas quase 70% do total de eleitores no país.
- Sudeste: 63.252.818 (42,64%)
- Nordeste: 39.802.682 (26,83%)
- Sul: 21.827.874 (14,71%)
- Norte: 11.811.984 (7,96%)
- Centro-Oeste: 11.028.647 (7,43%)
Sudeste vs. Nordeste?
Pela sua dimensão demográfica, o Sudeste é sempre decisivo nas eleições presidenciais. No primeiro turno de 2018, por exemplo, Jair Bolsonaro (então no PSL) ganhou de Fernando Haddad (PT) em todas as regiões – exceto no Nordeste, tradicional reduto petista – com uma diferença nacional de 18 milhões de votos, sendo que 85% dessa diferença foi obtida no Sudeste. Essa região foi fundamental para a vitória de Bolsonaro no passado, mas será agora?
A tabela abaixo apresenta o quantitativo de milhões de votos dados a Bolsonaro e Haddad no primeiro turno em 2018. Para efeitos de simplicidade e também para tornar a comparação mais direta entre eles, desconsiderei os votos dados ao conjunto dos demais candidatos que disputaram aquela eleição.
Chama a atenção que, dos 18 milhões de votos de vantagem de Bolsonaro sobre Haddad, um total de 15,3 milhões vieram da diferença entre eles no Sudeste. Ou seja, estes 15,3 milhões de votos mais do que compensaram a desvantagem de 24,7 pontos percentuais de Bolsonaro no Nordeste, onde Haddad abriu uma margem a seu favor de 7,2 milhões de votos no primeiro turno daquele ano.
As votações percentuais obtidas no primeiro turno das eleições de 2018 para os dois candidatos são colocadas ao lado das taxas atuais de intenção de votos nas cinco regiões do país.
Por regiões, Bolsonaro está numericamente à frente no Sul, Centro-Oeste e Norte, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera no Sudeste e no Nordeste, aí com grande diferença. Ainda por inspeção dos mapas, observa-se que Lula é o beneficiário do desgaste de Bolsonaro depois de três anos e três meses de um governo com baixos índices de aprovação popular – os mais baixos da história entre presidentes em primeiro mandato. Essa realidade traduz-se em números de intenção de votos inferiores aos obtidos pelo atual presidente em 2018.
Em um ambiente concorrencial tão adverso, a estratégia do governo visando à reeleição de Bolsonaro fatalmente apostará em instrumentos para que a imagem de Lula seja afetada de tal maneira que possa vir a perder pontos nas pesquisas, não só no Sudeste, mas também no Sul, Centro-Oeste e Norte. Como resultado, o eleitor vai começar a se defrontar com lembranças públicas e midiáticas do passado e da conturbada era petista em período mais recente.
Bolsonaro
Haddad/Lula
Fator Moro
Com a desistência de Sergio Moro (União Brasil), uma parcela de seus apoiadores – cerca de 12,5 milhões de eleitores – concentrados nas regiões Sudeste e Sul estão migrando para uma alternativa, seguindo mais ou menos esta lógica: Bolsonaro > Branco/Nulo > Doria > Ciro > Lula.
Antes da desistência do ex-juiz, Bolsonaro tinha 31% dos eleitores no Sudeste e 35% no Sul, enquanto Lula tinha respectivamente 37% e 31%. Na atualização mais recente desses números, Bolsonaro tem 34% de apoio no Sudeste (+3) e 38% no Sul (+3). Já Lula manteve os mesmos 37% no Sudeste, mas perdeu 1 ponto percentual no Sul.
Origem dos números de intenção de voto
Independentemente das margens de erro das pesquisas, que são maiores que as margens de erro globais, quando estamos analisando subgrupos, as diferenças de intenção de voto entre os institutos em vários levantamentos realizados desde o ano passado estão assustadoramente altas; muitas vezes até mesmo antagônicas. Por isso, utilizamos um modelo gaussiano para obter o consenso médio da intenção de votos nas cinco regiões do país encontradas pelas várias empresas de pesquisas.
As pesquisas utilizadas para realizar esta análise vieram de sete empresas de pesquisa: Datafolha, Futura, Instituto FSB, Paraná Pesquisas, PoderData, Quaest e Sensus.