economia

Tendências e amadurecimento do ecossistema de pagamentos na América Latina

Participantes do mercado devem antecipar requisitos regulatórios futuros e buscar exemplos globais já testados

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Crédito: Unsplash

O ecossistema de pagamentos latino-americano evoluiu significativamente nos últimos anos, principalmente durante a pandemia, uma vez que os consumidores migraram suas compras para meios digitais. Devido a essa mudança de paradigma, os mercados têm se modernizado a fim de promover e padronizar inovações que surgiram neste interim.

Em um mercado no qual ainda se verifica um elevado nível de desbancarização e com uma concentração do fluxo financeiro em poucos bancos, percebemos um incentivo crescente à competição, por meio de novos modelos de negócio, que emergem como alternativas aos serviços bancários tradicionais.

Neste quesito, governos têm se mostrado cada vez mais “pró-fintech” globalmente. Na América Latina não é diferente, porém surge a dúvida: qual seria a tendência para o futuro?

Com relação às fintechs, ao avaliarmos dados divulgados pelo Banco Mundial no “Global Fintech-enabling regulations database”, podemos dividir os temas centrais em dois grupos:

  • Básico: compreende aspectos genéricos que dão suporte ao funcionamento do sistema financeiro como um todo (proteção de dados, cibersegurança, prevenção à lavagem de dinheiro etc.);
  • Específico: é composto por um conjunto fatores específicos aos diferentes modelos de negócio viabilizados pelas fintechs (bancos digitais, sociedades de crédito privado, criptomoedas etc.).

A partir da análise de tais dados, podemos identificar padrões e tendências futuras para as fintechs na América Latina, tanto do ponto de vista básico como específico.

Ao analisarmos os fundamentos básicos dos mercados, percebemos que a América Latina se encontra em uma fase de amadurecimento comparável à da América do Norte, da África e do Oriente Médio.

Enquanto temas como proteção de dados, cibersegurança e prevenção à lavagem de dinheiro e combate do financiamento ao terrorismo são solidificados, há ainda espaço para uma expansão homogênea de temas como open banking, digitalização de transações e identidade digital.

No entanto, necessita-se avaliar se as questões específicas relacionadas às fintechs encontram-se alinhadas com os fundamentos básicos. Esta análise determina o grau de incerteza futura. Se os aspectos específicos possuem um grau de maturidade igual ou inferior aos fundamentos básicos, há consistência e menor grau de incerteza. O contrário também se faz verdadeiro: se a maturidade dos temas básicos for inferior aos aspectos específicos, maior será o grau de incerteza.

Na América Latina, tanto a infraestrutura básica como a específica para fintechs possuem graus semelhantes de amadurecimento, indicando que estas duas dimensões evoluem de maneira consistente na região.

O grau de amadurecimento é semelhante na América Latina, na Europa e na Ásia Central, na Ásia e na Oceania e na África e no Oriente Médio.

A América Latina se destaca por seu pioneirismo em temas como marketplace de empréstimos e estudos de caso de aplicação de moedas digitais de bancos centrais (em inglês, CBDC). Aspectos relativos à utilização de moeda eletrônica e disponibilização de licenças para bancos digitais encontram-se tão maduros e avançados como em todas as outras regiões.

Com esses dados em mãos, nos questionamos quais seriam as principais tendências para fintechs na América Latina. Fazendo um benchmark com outras regiões mais desenvolvidas e maduras, podemos concluir que ainda há espaço para uma expansão consistente de regras relativas a transações eletrônicas, identidade digital, open banking, facilitadores de inovação (sandbox regulatório), criptomoedas e CBDCs.

Cabe aos participantes do mercado, portanto, antecipar os requisitos regulatórios futuros e buscar exemplos globais já testados, pois os mesmos devem servir de modelo para o desenvolvimento de um ecossistema local de pagamentos alinhado com as tendências mundiais.