A primeira rodada de conversas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Brasília após o lançamento oficial de sua pré-candidatura indica que o ex-presidente conta com o PSD e o MDB como pilares de um projeto de governabilidade, caso vença a eleição.
As duas siglas seriam potenciais rivais do grupo hoje liderado por Arthur Lira (PP-AL) na largada de um eventual terceiro mandato.
Lula mostrou-se eufórico com a deferência de expoentes do PSD de Minas Gerais, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o líder do partido, Alexandre Silveira, que chegou a ser convidado a assumir o comando da base de Jair Bolsonaro na Casa, mas foi barrado pelo partido.
O ex-presidente relatou a interlocutores que há “indicativo favorável” da sigla chefiada por Gilberto Kassab para uma futura possível aliança em 2023. O primeiro gesto foi feito no acerto com o PT de Minas em favor do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil.
A despeito do acordo firmado com Kassab para a eleição paulista, onde o PSD estará na chapa do governista Tarcísio Freitas (Republicanos), e do recém-divulgado alinhamento ao PDT no Rio de Janeiro, o dirigente partidário deixa claro que a ideia é manter-se na órbita de Lula para a governabilidade, em caso de triunfo do petista nas urnas.
Na avaliação dos operadores de Kassab, as principais lideranças da sigla hoje estão mais próximas de Lula, o que ajudaria numa possível adesão à base de sustentação a ele.
No front emedebista, o ex-presidente conta com a interlocução de Renan Calheiros (AL), adversário ferrenho de Lira, e conquista alguns novos adeptos na medida em que se mantém na dianteira das pesquisas.
O engajamento do senador Eduardo Braga (AM) na ofensiva lulista também foi celebrado pelo núcleo político da campanha do PT.
Na próxima segunda-feira, é esperada nova rodada de negociações com expoentes do MDB. O petista deve se encontrar com governadores e aliados para definir palanques convergentes nos estados. Por enquanto, a expectativa de Lula é de que PT e MDB sigam juntos em 10 estados: Amazonas, Maranhão, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pará, Piauí, Pernambuco e Paraíba.
A desenvoltura de Lula com os atores dos dois partidos, além de estimular a percepção de desenho de um pacto de governabilidade, caso ele seja vitorioso, visa esvaziar ainda mais a chamada “terceira via” e impulsionar o desejado movimento pelo “voto útil” ainda no primeiro turno da eleição.
O racha no MDB, em especial, afeta a estabilidade da candidatura da senadora Simone Tebet (MT), que corre o risco de chegar às convenções sem respaldo majoritário na própria sigla.
Tebet, que já sinalizou que deve apoiar Lula num eventual segundo turno, não empolga a base emedebista e está sob permanente pressão.
Sem fechar portas
Apesar da ofensiva para formar uma potencial base de sustentação mais robusta, Lula dá indicativos de que não pretende bater de frente com Lira na disputa pela mesa da Câmara em 2023. Principalmente se for mantida a dinâmica das emendas de relator do Orçamento. No entendimento do ex-presidente, esse modelo, que será combatido em caso de vitória do PT nas urnas, desequilibraria a eleição para a Presidência da Câmara.
“Lula gostaria de mudar essa correlação de forças no Legislativo, mas sabe que a prioridade é não ter um inimigo no comando da Câmara. Como o centrão é tradicionalmente governista, há margem para uma negociação”, admite um interlocutor da campanha petista.