RISCO POLÍTICO

Diante do risco de perder base fiel, Bolsonaro troca retórica social por beligerância

Nos bastidores, se fala que o preço da manutenção da minoria aquecida pode ser a inviabilidade definitiva nas urnas

Jair Bolsonaro (PL) condecorou ministros com Ordem de Rio Branco e encontrou apoiadores, na quarta-feira (8/12) | Foto: Estevam Costa/PR

Esta semana foi marcada pela volta de Jair Bolsonaro (PL) ao estilo característico dele de confronto e radicalização. O presidente, após um período de relativa trégua com o Supremo Tribunal Federal (STF) e com outros adversários, retomou a retórica beligerante, de ataques e desafios aos ministros da mais alta Corte do país, além de aos governadores.

Essa guinada na conduta de Bolsonaro tem pouca importância efetiva até porque ninguém mais em Brasília se surpreende com esses arroubos de natureza populista. O foco do presidente é a sua base de apoio: aqueles quase 25% dos brasileiros que acham o seu governo bom ou ótimo. Esse público, que foi às ruas no dia 7 de setembro, vinha reclamando do Bolsonaro capturado pelo centrão e fazendo o jogo político do establishment.

O que mudou, então, para levar o presidente a essa inflexão?

Em primeiro lugar, o governo conseguiu o que precisava para concluir sua agenda para 2022. Desde o início do semestre, quando a situação da economia entrou numa espiral negativa, Bolsonaro e seus ministros tinham apenas um objetivo: aprovar um programa social que superasse em cifras o valor pago pelo Bolsa Família e se convertesse em ativo político para o projeto de reeleição.

Na quarta-feira (8/12), depois de uma sessão tumultuada no Senado, a PEC dos Precatórios foi promulgada de forma fatiada e criou as condições para o auxílio de R$ 400. Portanto, ficou resolvida a parte que cabia ao Congresso para o acordo firmado com Bolsonaro.


Em segundo lugar, o Planalto sentiu um certo vento de mudança no xadrez eleitoral a partir da entrada de Sergio Moro (PODE) na disputa. O ex-juiz da Lava Jato aparece consistente com dois dígitos nas principais pesquisas de intenção de voto e passa a popularizar sua campanha. Ele acena para quem está ou esteve do lado de Bolsonaro, com uma agenda que de alguma maneira se parece com aquela usada pelo presidente no passado, de questionamentos ao STF, combate à corrupção e até valores considerados “conservadores” pelo centro e a direita.

Agregador do JOTA, disponível para assinantes do JOTA PRO Poder, reúne dados de pesquisas eleitorais para determinar o cenário mais realista. 

Diante desse risco, de perder mais eleitores para Moro e se distanciar dos apoiadores mais radicais, Bolsonaro abandonou a estratégia que vinha sendo combinada com seus aliados, que esperavam o presidente focado na agenda social e de entregas para a população carente e com menos ruído institucional.

Os que dirigentes partidários estão dizendo nos bastidores é que o preço da manutenção da minoria aquecida pode ser a inviabilidade definitiva nas urnas, já que o nosso sistema eleitoral pressupõe, sim, construção de maioria. E todas as pesquisas indicam que a maior parte dos brasileiros hoje gostaria de mais vacina e menos inflação. Mais governo e menos confusão.

Fabio Zambelli é analista-chefe do JOTA, em São Paulo. As análises completas sobre a semana estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) todas as sextas-feiras. 

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