No primeiro café da manhã com jornalistas do terceiro mandato presidencial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que sentou à mesa soou mais intransigente com a defesa da agenda que avalia ser essencial para fazer um governo voltado aos mais pobres do que nas duas vezes anteriores que ocupou o Planalto.
“Esse é um compromisso de vida e é isso que eu vou cumprir, o resto é conversa fiada”, disse.
Para executar o que diz ser obsessão, Lula acenou com uma cartilha que envolveria uma nova política tributária de viés progressivo na taxação de renda e o enxugamento de gastos públicos avaliados como ineficazes como, por exemplo, a remuneração elevada de integrantes de conselhos de estatais. O mercado financeiro pode considerar as alternativas insuficientes para neutralizar a elevação de despesas sociais, mas terá de lidar pelos próximos quatro anos com uma nova interpretação proposta por Lula de termos como gasto e investimento.
É que, embora seja reconhecido pelo perfil negociador, Lula avaliou que, depois de enfrentar a eleição mais difícil da própria história, a normalização do Brasil passaria pela compreensão de que gastar com pobre é investimento. A tônica é a prioridade de toda a Esplanada, e não à toa a ordem dada aos ministros nos primeiros cem dias é de prioridade para projetos de implementação imediata, que incluem a retomada de obras paradas. A longo prazo, as três prioridades elencadas por Lula são saúde, educação e erradicação da fome.
A questão é que, como o petista frisou, Bolsonaro foi derrotado, mas o bolsonarismo está aí, mimetizado na percepção de que o novo governo assumiu sem ter o controle completo das forças de segurança. A mais explícita sinalização dada por Lula nessa direção foi a desconfiança de que setores da polícia e militares do Planalto teriam favorecido o acesso ao local nos atos golpistas registrados no último domingo (8/1). Lula disse estar esperando a poeira baixar, mas não diminuiu o tom sobre a necessidade de responsabilização dos culpados no ataque contra à democracia.
Embora tenha evitado passar a ideia de perseguição, ao ser questionado sobre eventuais ações a serem tomadas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o petista sinalizou preocupação especial na disputa política cognitiva para a pacificação no país. Segundo ele, não é sobre exercer apenas um bom governo na definição de prioridades na agenda, mas, sim, construir narrativas que tirem “da cabeça de bolsonaristas raízes e raivosos a ideia de que seriam superiores ao resto do povo brasileiro”. A tarefa, de acordo com o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, passaria por uma política rigorosa de combate à desinformação.
Desafio de conjuntura internacional — que estará condicionado o sucesso da nova gestão — é como resolver a equação de isolar o radicalismo, mas, ao mesmo tempo, se aproximar parte do eleitorado centro-direita que resistiu ao retorno do petista ao poder.