Depois de cobrar publicamente executivos da Petrobras, constranger o presidente da empresa em audiência na Câmara e chamar de “insustentável” a pressão no preço dos combustíveis, Arthur Lira decidiu subir, literalmente, ao palanque de Jair Bolsonaro.
Ao lado do chefe do Executivo, em evento festivo no seu estado de origem, o expoente máximo do “centrão” deu uma força a Bolsonaro no discurso de enfrentamento aos governadores e prometeu acelerar a discussão do projeto do ICMS fixo, que tem potencial para afetar as contas estaduais em ano eleitoral.
“O fato é que o Brasil não pode tolerar gasolina a quase R$ 7 e o gás a R$ 120”, desabafou o presidente da Câmara.
O primeiro teste será a reunião do colégio de líderes, marcada para esta quarta-feira. O JOTA ouviu de representantes de bancadas numerosas que a movimentação dos governadores já começou. A orientação é para ganhar tempo no tema, postergando a deliberação.
Será uma queda de braço ruidosa. Isso porque Bolsonaro já orientou sua militância digital a fazer pressão sobre os deputados nos moldes da registrada durante a discussão sobre o voto impresso. “Peço a Deus que ilumine os parlamentares”, bradou o presidente na frente da plateia amiga no interior de Alagoas, dando o comando aos seus apoiadores e sendo aplaudido efusivamente.
“Lira vai ajudar Bolsonaro a fazer política em cima de um tema que é de mercado. Isso mostra a natureza da aliança do centrão com o governo. É zero preocupação com a agenda liberal”, resume um dirigente partidário ouvido pelo JOTA.
“É para colocar pressão”, diz outro líder do mesmo “centrão” ouvido pelo JOTA. “O aumento não tem a ver com ICMS. O problema está no preço internacional do barril de petróleo e na desvalorização do real. É uma falácia”, afirmou.
O alinhamento político de Lira com a pauta diversionista de Bolsonaro chamou a atenção de operadores do mercado, que temem que essa aproximação resulte em novas investidas populistas, inclusive interferindo na pauta do gasto público para 2022.
O presidente da Câmara tem falado em diversos fóruns com desenvoltura sobre a extensão do auxílio emergencial, em paralelo à criação do novo programa social, uma versão turbinada do Bolsa Família.
Fontes da equipe econômica observam os movimentos de Lira com apreensão, pois enxergam a gênese de teses que podem representar ‘dribles’ ao teto de gastos com o objetivo de assegurar cheques mais generosos à população carente — foco de Bolsonaro para buscar novo mandato.
“O nosso compromisso é fazer toda a formatação dos programas dentro do teto, rigorosamente. Não houve mudança de entendimento dentro da pasta. Os políticos sempre estão de olho em algo mais. Nosso papel é defender as âncoras fiscais e mostrar ao presidente os riscos de qualquer ruído no sentido oposto”, afirma essa fonte do time de Paulo Guedes ao JOTA.
Caminhoneiros
Outra frente que preocupa o governo é a dos caminhoneiros. Desde 2018, o Executivo mapeou 16 tentativas de paralisações da categoria, sendo que a única que prosperou, por razões meramente políticas, foi a do dia 7 de Setembro, estancada após a intervenção pessoal de Bolsonaro.
Em que pese a manifestação de líderes de segmentos específicos, os sucessivos fracassos contribuem para um sentimento de desmobilização na classe. Na visão do poder público, o caminhoneiro autônomo não tem força suficiente para organizar uma paralisação de alcance nacional — exceto as que têm financiamento e impulsionamento privado e distinto.
O piso do frete tem um gatilho para aumentos no preço do diesel. Na prática, esse custo não fica com o caminhoneiro. Ou seja, seria preciso uma enorme movimentação empresarial para impactar em bloqueios de estradas.
As queixas que chegam ao governo são interpretadas como “pontuais” e similares às de outros setores da economia impactados pela inflação e pelas sucessivas elevações nos preços dos combustíveis.