O Fundo Monetário Internacional (FMI) trouxe mais uma notícia ruim para o governo brasileiro. O organismo multilateral reduziu bastante a projeção de crescimento do PIB para 2022, passando de 1,5% para 0,3%, número em linha com o que está projetado pelos analistas do mercado financeiro brasileiro e que na prática significa um cenário de estagnação. Para 2023, o corte na estimativa foi de 2% para 1,6%.
O movimento de queda foi bem mais pronunciado que a média mundial prevista pelo Fundo para este ano, que caiu de 4,9% para 4,4%. Para 2023, primeiro ano do próximo governo, a expectativa da instituição subiu de 3,6% para 3,8%, na contramão do corte feito para o Brasil.
Até o momento, ninguém do governo falou sobre o assunto. Alguns interlocutores ouvidos pelo JOTA ironizaram as novas estimativas, lembrando erros já cometidos pelo fundo, como em 2020, quando chegou a projetar 9% de queda, e que no relatório atual elevou a projeção para o desempenho da Argentina em 0,5 ponto, para 3%, mesmo com o país vizinho passando por severas dificuldades.
A equipe econômica projeta oficialmente 2,1% de expansão para o PIB brasileiro em 2022. O número é visto como muito otimista por diversos analistas privados, mas a Pasta liderada por Paulo Guedes considera que as visões muito pessimistas estão desconsiderando os investimentos em infraestrutura previstos para esse ano e também o processo de retomada das atividades na esteira da vacinação e na redução de mortes por coronavírus, embora seja importante ressaltar que a variante Ômicron começou a causar problemas e cancelamentos de algumas atividades.
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É fato que o ambiente econômico está cercado de incertezas, externas e internas e que o time de Guedes pode acertar em seu cenário. Mas é importante destacar que, mesmo a visão mais otimista do governo, é de um crescimento muito aquém das necessidades do país em termos de geração de emprego e renda. E isso tem consequências também no jogo político de Bolsonaro, postulante à reeleição e que está desesperado para adotar medidas com vistas a virar o jogo.
Nesse contexto, que o governo passou ao discutir medidas inoportunas, como a PEC para interferir nos preços dos combustíveis, que pode no curto prazo até reduzir a inflação (outro problema que assombra o governo), mas que joga gasolina na incerteza fiscal e, consequentemente, mantém juros e dólar mais pressionados do que seria natural, prejudicando exatamente o desempenho do nível de atividade e a trajetória da inflação.