A escalada da crise no Ministério da Educação (MEC), que se alastrou do espectro do tráfico de influência para as suspeitas de fraudes em obras de escolas, atingiu o núcleo-duro de Jair Bolsonaro e colocou na berlinda o principal articulador da base governista: o ministro Ciro Nogueira (PP-PI).
O problema para o Planalto é que o desfecho do escândalo está distante, o que pode arrastar para o centro das investigações todo o desenho de partilha de cargos e recursos que está na gênese da aliança bolsonarista com o centrão.
Além de Nogueira, responsável pelas indicações para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), conhecido como “Banco da Educação”, o mapa das investigações pode envolver outros atores da coalizão centrista, entre deputados e senadores proeminentes no bloco aliado.
O caso de Nogueira é mais grave politicamente, na avaliação de ministros do Planalto, porque o passivo ético do chefe da Casa Civil vem aumentando na medida em que se aproxima a corrida eleitoral.
Na sexta-feira, a Polícia Federal concluiu que Nogueira recebeu propina do grupo J&F e cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O relatório final da investigação foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do ministro, presidente licenciado do PP, nega qualquer irregularidade, mas o clima no entorno de Bolsonaro piorou significativamente para o expoente do centrão.
Aliados das alas militar e ideológica identificam na crise uma oportunidade para restringir os poderes de Nogueira. O ministro foi o principal vitorioso da janela de transferências partidárias, que turbinou as siglas que apoiam o Executivo, e vem se credenciando como figura mais central na governabilidade, ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A expressão usada por Nogueira sobre a crise, classificando as denúncias como “corrupção virtual”, foi duramente criticada por diversos setores do governo. O entendimento majoritário entre bolsonaristas é o de que o chefe da Casa Civil se expôs excessivamente na defesa dos seus interesses.
Nogueira demorou a agir no Senado para barrar a coleta das 27 assinaturas necessárias para abertura da CPI do MEC e, quando entrou em campo para demover os colegas, evidenciou a preocupação governista com o potencial destrutivo da investigação.
Para além das apurações em curso na pasta, o modus operandi do grupo com prefeitos e parlamentares pode jogar luz sobre o arranjo que hoje assegura ao centrão o controle do orçamento público. Na visão de congressistas, uma apuração mais detida dos casos de desvios atingiria de forma fulminante as emendas de relatoria, sob escrutínio do Supremo Tribunal Federal.
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À frente do manejo orçamentário e da ocupação de espaço político na Esplanada, Nogueira agora precisa lidar com um núcleo palaciano formado majoritariamente por generais da reserva e integrantes da cota pessoal de Bolsonaro.
Com a volta de Walter Braga Netto para o Palácio do Planalto, como assessor, o eixo militar conta com os generais Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência. O trio tem histórico refratário aos nomes mais destacados do centrão.
Após a reforma ministerial, a única companhia eminentemente política de Nogueira no Planalto, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), cedeu lugar ao auxiliar direto do presidente, responsável inclusive por sua agenda, Célio Faria Júnior, novo ministro da Secretaria de Governo.