O entorno de Jair Bolsonaro (PL) está convencido de que o presidente recuou da intenção de fazer uma parada militar na praia de Copacabana, no feriado de 7 de Setembro. Na lógica da campanha, é a primeira sinalização concreta na direção de uma trégua com o Judiciário, depois do agravamento da repercussão institucional de pesos-pesados do PIB nacional, cristalizado em uma carta a favor da democracia que foi lida nesta quinta-feira, na Universidade de São Paulo.
Horas após as sinalizações dadas em conversas com representantes do Ministério da Defesa, o presidente da República recebeu das mãos do ministro Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, no Palácio do Planalto, o convite para a posse de ambos no comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no próximo dia 16.
O núcleo político trabalha para convencê-lo a ir à cerimônia em meio a um clima de otimismo sobre uma possível melhora na relação com o Judiciário a partir da troca de comando na Corte eleitoral.
Um argumento que também contribui para esse cenário, de acordo com fontes envolvidas nas negociações, é a perspectiva de redução da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, diminuindo as tensões e facilitando as conversas com a Corte diante de um cenário eleitoral menos desfavorável.
Embalado pela expectativa de melhora no desempenho nas pesquisas a partir do fim do mês, em razão dos impactos da PEC e avanço nos indicadores econômicos, o QG bolsonarista torce por essa mudança de rumo. O temor desses aliados é que a insistência na retórica radical ofusque os resultados e assuste o eleitorado classe média contemplado pela redução no preço dos combustíveis. O foco é, sobretudo, na região Sudeste — que abriga, até aqui, um contingente de cerca de 10 milhões de eleitores arrependidos pelo voto em Bolsonaro em 2018.
Em outra frente, a campanha atua para Bolsonaro usar os atos do Dia da Independência apenas para endossar o ‘Datapovo’ às vésperas do primeiro turno, com manifestações pacíficas de apoiadores nas ruas apropriando-se das cores verde e amarelo, além de valores patrióticos.
Embora a missão seja complexa, já que o trunfo de mobilização da base de Bolsonaro está atrelado ao permanente “estado de guerra contra o sistema”, o sucesso da operação é classificado pelo centrão como ‘essencial’ para o sucesso do projeto de reeleição.
É a economia, estúpido
Enquanto o PT tenta calibrar o discurso sobre nova rodada de benefícios sociais antes da largada oficial da campanha, a projeção mais otimista do governo sobre o impacto da PEC no Nordeste estima um aumento de até 10% para Bolsonaro entre as famílias que receberão o incremento de R$ 200 no valor do Auxílio Brasil. Desse contingente, pelo menos 70% do total seria retirado de intenção de voto no petista.
Embora a conta seja minimizada pela campanha lulista, cresceu a percepção de que o ex-presidente precisa alargar a base eleitoral, com acenos mais efusivos ao centro, diante do diagnóstico de que, até aqui, quem estaria ganhando a eleição seria o ‘Fora Bolsonaro’.
“A única coisa que dá para ter certeza nesse momento é que, nos últimos seis meses, o PT não conseguiu furar a própria bolha. E tudo indica que Bolsonaro sim, com o incremento nos pagamentos sociais”, resumiu uma fonte da campanha.