Tecnologia

Pessoas ainda não têm ‘devida maturidade’ para entender ChatGPT, diz professor da Uerj

Para especialistas, ferramenta não tem capacidade de tirar empregos de advogados, jornalistas, entre outros profissionais

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Crédito: Unsplash

Tecnologia que tem chamado atenção nos últimos tempos, o ChatGPT foi tema de evento nesta quinta-feira (9/2) no Rio de Janeiro. Nele, o professor da Uerj e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), Carlos Affonso Souza, disse que as pessoas ainda não têm a devida preparação para entender a nova ferramenta.

“O ChatGPT veio ao mundo sem a devida maturidade para que as pessoas entendam o que elas estão vendo”, afirma Souza, durante o debate “Chat GPT e o impacto no mundo real”, realizado pelo escritório LDCM Advogados. Na ocasião, foram discutidas as oportunidades e os impactos da inteligência artificial nos postos de trabalho.

O Generative Pre-Training Transformer (GPT), o Chat GPT, é uma ferramenta de inteligência artificial utilizada para gerar diálogos virtuais. Ele foi criado pela OpenAI e usa uma técnica de processamento de linguagem natural (PLN) baseado em dados e informações disponíveis na internet.

João Pedro Monteiro, diretor de tecnologia e cofundador da Veezoo, explica que a diferença entre as inteligências artificiais anteriores e o ChatGPT é que ele é treinado a partir de um modelo de linguagem, enquanto que os mais antigos eram treinados a partir de exemplos. Para exemplificar, ele usa o Google Tradutor.

Nos modelos antigos, era necessário fornecer muitos exemplos de alta qualidade para que a tradução fosse realizada corretamente. Agora, se utiliza um modelo de linguagem, fornecendo vários textos disponíveis e não mais exemplos. O modelo de linguagem tem um funcionamento parecido com o corretor de mensagens do WhatsApp.

“Um exemplo de modelo de linguagem: o livro está em cima da ____. A gente mesmo completa [com mesa]. Quando ele lê o modelo de linguagem, com muitos textos, ele cria essa noção. O ChatGPT não tem uma compreensão conceitual, mas ele trabalha em cima das palavras”, esclarece Monteiro. 

A inteligência artificial é capaz de gerar textos, imagens, vídeos, animações, áudios, entre outros. Porém, segundo Monteiro, ela comete alguns erros, como os de lógica matemática, e também inventa fatos e autores. O ChatGPT não prioriza a confiabilidade da informação que ele disponibiliza, mas sim, a entrega de uma resposta. “O ChatGPT alucina de vez em quando. Quando você pede uma tese, ele cita autores que não existem. Quando você pede resumos desses autores, ele inventa”, Monteiro observa e acrescenta: “Ele está brincando de gerar um texto que se encaixe com o texto anterior. Ele está assumindo que a pessoa existe. É bem interessante, mas não é verdade”.

O ChatGPT também é capaz de produzir DeepFakes, que são vídeos em que uma pessoa interpreta uma cena e depois o rosto de outra pessoa é colocado no lugar da face do intérprete. Monteiro afirma que essa é uma “nova era da DeepFake”. “Ela está sendo democratizada e não de um jeito positivo”, destaca.

Para Monteiro, o robô pode ser útil na realização de tarefas simples, como as tarefas em que um humano saberia a maneira executar e conseguiria verificar um resultado. O ChatGPT automatiza “tarefas em que a verdade é irrelevante”, explica.

O medo de alguns profissionais é de que a ferramenta substitua completamente alguns postos de trabalho. Para o professor da Uerj, “a gente começa a ver opiniões muito exacerbadas dizendo que irá acabar com os empregos dos advogados, dos juniores, dos estagiários. Essas calibragens todas são meio erradas. Porque essas pessoas fazem coisas que o ChatGPT ajuda, em partes, mas isso não quer dizer que o saber e o conhecimento humano será obliterado”, ressalta.

Ao falar sobre o jornalismo, Daniela Bertocchi, jornalista e consultora de comunicação para empresas de tecnologia, ressalta que “está sendo difícil um texto ir direto do ChatGPT para o público”, afirma, salientando: “Ele te monta alguma informação, mas dispensa uma série de processos caros para o jornalismo”.

Para a jornalista, quando o leitor entra em contato com uma notícia, existe uma expectativa de que aquela produção foi verificada e que foram consultadas fontes. “Nos bastidores, tem a expectativa de que existe um trabalho jornalístico de alta qualidade. É um contrato implícito entre um leitor e um autor”, observa.

Já o ChatGPT, segundo Bertocchi, é um autor meio falseado com cara de autor neutro, uma vez que “ele busca uma série de textos sem tempo histórico, sem contexto, sem viés”, afirma.

A jornalista conclui observando que o ChatGPT “tem impacto em todas as áreas, mas ainda existem muitos questionamentos em aberto: questões éticas, de veracidade e questões regulatórias”, diz.