Coronavírus

Agronegócio monitora epidemia e espera retomar normalidade do comércio com China

Previsão de retomada da produção e das compras bilaterais com o país melhora os ânimos do setor

Foto: Agência Brasil

Com crise menos intensa na China, o agronegócio brasileiro prevê retorno à normalidade das trocas com seu principal parceiro comercial. Esta semana, os chineses anunciaram que o pico da epidemia do coronavírus passou no país, o que trouxe um pouco de ânimo para o setor e a previsão de retomada da produção e das compras bilaterais.

Desde a eclosão da epidemia na China, o maior problema enfrentado pelos exportadores brasileiros é a logística. Com o fechamento dos principais portos chineses, os contêineres brasileiros têm demorado mais para ser descarregados e voltar para o Brasil.

Os portos estão reabrindo aos poucos, o que ainda acarreta lentidão ou falha na entrega dos produtos. Muitos não podem ficar paralisados por muito tempo, pois precisam ser mantidos refrigerados. Mas a reabertura de parte deles já sinaliza que o comércio entre os dois países voltará a fluir normalmente.

“O problema logístico vai se resolver ao longo do ano, isso já está sendo trabalhado. O que podemos ter deixado de exportar ou demorado para entregar certamente vai ser compensado”, avaliou Bruno Lucci, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A China é atualmente a maior compradora de carnes bovina, suína e frangos do Brasil. O mercado chinês também consome grande parte da soja brasileira.

Como o continente asiático enfrentou recentemente perdas com as gripes suína e aviária, a demanda da região por proteína animal ainda deve continuar elevada, o que beneficia a manutenção das exportações brasileiras. No caso da carne bovina, não houve nenhuma quebra de contrato até agora.

Mas, o foco da contaminação do coronavírus passou para outros parceiros comerciais importantes do Brasil, como a Europa e os Estados Unidos.

A queda do Petróleo, que afeta diretamente o setor sucroenergético, a oscilação das bolsas de valores em todo o mundo e a desvalorização do real frente ao dólar estão preocupando os produtores, principalmente de grãos, café, algodão e outras commodities que são cotadas no mercado de ações e tiveram seus valores deteriorados.

“O cenário está muito nebuloso. A questão do petróleo surgiu num cenário já de caos e as bolsas não estão normalizadas ainda. Depois do anúncio da pandemia, houve uma preocupação ainda maior. Para pensar e propor uma estratégia, tem que ter pelo menos uma sinalização pra que lado está indo, e neste momento acho que ninguém está vendo nada”, comentou Lucchi.

Medidas

A dinâmica com que os fatos vêm se desenrolando nos últimos dias acendeu a luz amarela entre os produtores, mas ainda não há definição exata das medidas que serão tomadas para mitigar o impacto da crise.

Boa parte dos produtores, principalmente de grãos, já travaram os preços e fizeram seus pagamentos essa semana para evitar a possibilidade de enfrentar nova alta do dólar.

O Ministério da Agricultura afirmou ao JOTA que está em contato diário com as entidades privadas para monitorar a situação, contudo ainda não tem informações concretas sobre os efeitos da epidemia.

O impacto ainda não é visto de forma clara na balança comercial brasileira. No caso da soja, houve uma queda de 10,6 milhões de toneladas no volume exportado nos dois primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2019.

No entanto, a CNA explica que a redução ocorreu devido ao atraso do plantio no fim do ano passado por questões climáticas e consequente redução do tempo de colheita, entre outros fatores.

Segundo Edeon Vaz, diretor-presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), o clima no setor, por enquanto, é de normalidade. Nenhuma exportação foi interrompida por causa do coronavírus e, apesar, de a cotação da soja na Bolsa de Chicago ter caído 15%, ainda não há cálculos sobre danos e perdas.

O setor espera ter uma visão mais clara do impacto da epidemia e dos outros fatos negativos das últimas semanas sobre as exportações nos próximos resultados que devem sair no início de abril.

O Ministério da Agricultura vê com certa cautela, inclusive, a abertura de oportunidades no meio da crise, com a queda de mercados concorrentes aos produtos brasileiros, principalmente na Europa.

Impacto no consumo

No mercado interno, o setor não sentiu até o momento nenhuma redução abrupta do consumo de alimentos no Brasil. O país ainda tem estoques e as pessoas continuam consumindo.

Entretanto, com a diminuição das projeções de crescimento da economia mundial e nacional, o setor não descarta a possibilidade de redução no poder de consumo de bens e produtos de maior valor agregado, como certas frutas, alguns tipos de carnes e derivados de lácteos.

Enquanto a situação não se estabiliza, os produtores brasileiros estão mantendo as atividades e repensando suas estratégias de negociação.

“É um cenário bastante preocupante para a agropecuária, assim como para outros setores da economia. O produtor não pode parar e tem que tomar cuidado para fechar negociações nesse momento turbulento de câmbio elevado e outras variáveis que não temos muito controle sobre como vão se comportar nos próximos meses. Então, é um momento para o produtor estar atento para trabalhar a gestão e otimizar a negociações seja para venda ou compra de insumos”, completou Lucchi.