Políticas públicas

Programa cientista-chefe aplica ciência das universidades na gestão pública

Webinar JOTA/Insper abordou avanços de programa do governo do Ceará, que tenta aprimorar políticas públicas

Crédito: Pixabay

A gestão pública — da mesma forma que a ciência –, precisa se basear em fatos, não em opiniões. Desta forma, a chance de sucesso na implementação de uma política pública é muito maior. Pensando nisso, a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) criou o programa cientista-chefe para unir as práticas do meio acadêmico à gestão pública, de forma a basear políticas públicas em pesquisas científicas. Esse método foi adotado em áreas como segurança pública, infraestrutura, recursos hídricos e educação no governo estadual do Ceará.

De acordo com a Funcap, o programa é inspirado em projetos internacionais, e tem o intuito de estabelecer uma conexão entre as universidades, governo e indústria, além de realizar pesquisas científicas. 

“A gente precisa que as inteligências das universidades trabalhem junto às instituições públicas. Nós acreditamos muito no método científico, que é uma forma adequada de se relacionar com fatos e não com opiniões”, comenta Jorge Lira, professor titular do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC), idealizador e coordenador do Programa Foco na Aprendizagem. 

Lira participou, nesta quinta-feira (7/5), do webinar promovido pelo JOTA em parceria com o Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper. Também estiveram no debate Tadeu da Ponte, mestre em Matemática pelo IME-USP, professor e coordenador do Centro de Educação do Insper, e Thomaz Veloso, membro da equipe do Programa Cientista-chefe da Educação Básica da Funcap.

O Centro de Educação do Insper, por meio de uma cooperação técnica com a Funcap, com a Universidade Federal do Ceará e com o governo do Ceará, aplicou o Programa Cientista-Chefe na área da educação. 

“Nosso primeiro projeto foi para o desenvolvimento de uma avaliação para os professores de matemática. Só para contextualizar, temos muitas avaliações feitas dos professores, indiretamente, pela performance dos alunos”, explica Tadeu da Ponte. “A avaliação foi um instrumento bastante inovador por duas razões: primeiro que avaliar o professor é uma coisa inovadora, avaliar o conhecimento pedagógico de matemática é inovador, mais ainda no contexto de ensino médio”.

Veloso explicou como funciona o método de avaliação dos professores, que ocorreu em 2018. “Quando você vai avaliar existe uma sensibilização que precisa ser muito bem cuidada para que tenha significado ao longo desse processo de formação, principalmente o que diz respeito aos professores de matemática”, disse. 

“A nossa preocupação é sistêmica. Vemos que há um número enorme de programas que antecederam o nosso, mas que abordaram essa questão do ensino da matemática sob um ângulo específico, quando na verdade temos que olhar por vários pontos de vista”, complementou Lira.

“Esse aspecto só tornava mais aguda a percepção de que a formação dos professores reproduz esses vícios”, destacou ao ser questionado sobre as dificuldades que os alunos encontram em aprender matemática pela falta de exemplos práticos. “Essa evidência gerada é ponto de partida para toda uma dinâmica que vira política pública no dia seguinte”, acrescenta o professor. 

Essa atualização curricular dos professores é algo que também está sendo proposto pelo projeto, para a produção de um novo ensino médio do Brasil, por meio de um “sistema adaptativo de aprendizagem”. 

Dentro do contexto de pandemia e do isolamento social, que modificou rapidamente o formato pedagógico e fez com que as escolas e professores desenvolvessem um método diferente de ensino, o programa Cientista-Chefe se mostrou bastante útil porque já mapeava o aprendizado nas escolas da rede pública. “A avaliação diagnóstica é extremamente importante para ver o quanto os alunos estão aprendendo nesse contexto de afastamento social”, afirma Tadeu da Ponte.

Com a necessidade de ter aulas à distância por meio da internet, os profissionais da educação notaram um fato curioso: a aproximação. “Foi preciso cada um de nós ficarmos em casa para nos aproximar dos alunos. A relação professor-aluno na pandemia ficou muito mais próxima. Esse é um relato de 100% dos professores”, afirma Veloso.

Segundo ele, os alunos estão mais interessados e acionam mais os professores para tirar dúvidas, o que ocorre por aplicativos de mensagem. 

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