Tecnologia

Desafios para plataformas digitais mais acessíveis para pessoas com deficiência

Segundo estudos da Secretaria Municipal da PcD de SP, entre 50 sites de empresas brasileiras, apenas um é acessível

Crédito: Pixabay

No Brasil, há 45,6 milhões de pessoas com  deficiência (PcD), ou seja, 23,9% da população, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Apesar do grande número, os recursos de acessibilidade são escassos no país, e fazem ainda mais falta durante a pandemia. Para Cid Torquato, secretário municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo, essas pessoas formam “o segmento mais vulnerável da sociedade, mais esquecido”. 

Para Torquato, o principal motivo pelo qual a acessibilidade digital para pessoas com deficiências não é tão desenvolvida é o preconceito. “A gente precisa quebrar isso, para que as pessoas com deficiência não sejam mais vistas dessa forma. Que a deficiência seja vista como algo que possa acometer qualquer pessoa”, destacou em webinar promovido pelo JOTA em parceria com o Insper nesta terça-feira (27/7).

O secretário cita a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) que estabelece que eventos devem ter recursos de acessibilidade, como um tradutor de libras, legendas e audiodescrição. Ele explica que apenas uma parte das pessoas com deficiências auditivas sabem libras. “Eu diria que as pessoas que sabem libras não devem passar de 50 mil”, diz. 

Todas as plataformas da prefeitura de São Paulo são certificadas e possuem a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Apesar da necessária política de inclusão digital, o Brasil não possui um selo nacional. Para Torquato, no poder público “isso é uma obrigação”. Já as empresas, para ele, “perdem público quando não são acessíveis”.

A grande realidade no mercado privado é a falta de acessibilidade. Torquato menciona um estudo feito pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo com 50 plataformas de grandes empresas brasileiras, e apenas uma passou pela aprovação de acessibilidade, o Bradesco. Ele explica como funciona o processo de avaliação do selo pela secretaria: primeiro há uma validação online e depois há uma fase de averiguação humana.

“O nosso grande desafio é aumentar a demanda desse selo pelo setor privado. Precisamos fazer com que as empresas queiram ter esse selo, e que a mensagem dele seja importante para elas”, afirma o secretário. Ele também menciona uma parceria com o Ministério Público Federal (MPF) para atuar junto das 50 empresas para a melhoria dos sites para pessoas com deficiência. Mas o acordo ainda está sendo avaliado pelo MPF.

“Um dos mitos que se tem é que a acessibilidade digital é cara, e não custa nada. Se você começar a desenvolver um site acessível desde o começo ele vai custar o que custou. O que custa é você fazer errado e ter que consertar. Chegamos em um tema interessante com isso, que é como as pessoas enxergam a acessibilidade”, argumenta Torquato.

Para o secretário, a tecnologia vai permitir que a acessibilidade digital e comunicacional se expanda. “A comunidade surda gostaria que aonde ela fosse tivesse um intérprete de libras. Isso é impossível. Como é que se faz? Com a tecnologia”, afirma. “A tecnologia está se aperfeiçoando para que possamos levar esse tipo de recurso para todos os lugares e pessoas”, acrescenta. 

Apesar da carência de conhecimento e estudo nas universidades sobre a acessibilidade digital e comunicacional para pessoas com deficiências, a pandemia deixou mais evidente a necessidade de recursos e, na opinião de Torquato, “está havendo uma demanda maior por conhecimento nessa área”.