CORONAVÍRUS

Covid-19: foco agora é a qualidade dos alimentos, não mais a quantidade produzida

Preocupação maior deve ser com a segurança sanitária dos alimentos. Tema foi discutido em webinar JOTA-Insper

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Pandemia ligou o alerta para a importância de uniformização na legislação sanitária / Crédito: Pixabay

A pandemia de coronavírus deve motivar uma reorganização da saúde humana e da saúde animal, com impacto direto na qualidade da segurança dos alimentos. “Durante anos havia uma associação do problema da alimentação com segurança alimentar no sentido de food security, de quantidade produzida”, explica Marcos Jank, professor sênior e coordenador do Insper Agro Global. “

Daqui para frente, segundo o professor, “entramos numa era de food safety, de qualidade, sanidade dos alimentos para evitar transmissões”. Segundo Jank, 70% das epidemias recentes têm origem zoonótica e várias delas surgiram na Ásia e na África, a partir de animais silvestres ou domésticos. “Temos que olhar a questão dos wet markets, os mercados molhados, onde há uma combinação de produtos frescos com animais vivos abatidos no local. Isso ocorre principalmente na Ásia e na África”.

Outro ponto que precisa ser abordado com maior atenção é a legislação sanitária. “Existem inconsistências. Muitos países têm legislações bastante sofisticadas, mas não há a aplicação e faltam de padrões mínimos”, afirma Jank. “Vale lembrar da falta de heterogeneidade nas cadeias produtivas, principalmente com relação à refrigeração. E o Brasil hoje é campeão em cadeias refrigeradas”.

Marcos Jank participou nesta quinta-feira (30/4) de webinar realizado pelo JOTA em parceria com o Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper. Junto com ele, estiveram Leandro Feijó, diretor de temas técnicos sanitários e fitossanitários do Ministério da Agricultura, e Rodrigo Lima, presidente do Agroicone e especialista em barreiras não-sanitárias e temas sanitários. O tema do webinar foi “políticas de sanidade animal e a segurança do alimento no pós-Covid”.

Antes da pandemia, havia o trinômio 3S, que tratava de sustentabilidade, saúde e sanidade. “A gente focava basicamente em meio-ambiente. Nosso maior problema tinha relação com desmatamento, mudança de clima. E falávamos da saúde humana mais pelo lado da fome e da desnutrição”, lembra Jank. “Agora vemos uma fragilidade da saúde pública e a necessidade de atuação global em termos de zoonoses, principalmente na qualidade e segurança dos alimentos”.

Para Rodrigo Lima, do Agroicone, não há como olhar a questão de sustentabilidade somente com o enfoque ambiental. “Se não houver sistemas sanitários eficientes, estruturados, baseados em princípios científicos, não há que se falar em sustentabilidade”, argumenta. “Sustentabilidade passa pelo ambiental, social e econômico. O que está em jogo é produzir de forma eficiente quando se trata de segurança de alimentos”, ressalta Lima.

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Aqui no Brasil, o sistema de controle sanitário é considerado exemplar, de acordo com Leandro Feijó, diretor de temas técnicos sanitários e fitossanitários do Ministério da Agricultura. “Vale lembrar que em 2006 nós instituímos a regulamentação da Lei Agrícola, o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária”, diz. “O Sistema colocou uma visão muito importante de compartilhar as diferentes etapas do contínuo produtivo, com responsabilidades compartilhadas e todas ações sendo desenvolvidas em uma avaliação prévia de risco”, explica.

O professor Marcos Junk avalia que o Brasil pode liderar o debate global para que os padrões sanitários sejam o mais uniforme possível, com os países seguindo regras multilaterais. “É preciso fiscalização efetiva de mercados a céu aberto, da falta de refrigeração, e que se faça essa transformação”, ressalta. “Temos que elevar os padrões e isso tem que ser feito de forma multilateral”, afirma.  “A gente tem que levar esse debate para a FAO, para a OMC, para a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), para o G-20, para todos os órgãos internacionais que podem hoje criar um sistema que resguarde a humanidade contra a eclosão de novas doenças”.

O governo já teve sinais de que o Brasil deve ter protagonismo no fornecimento de alimentos no pós-pandemia. “Os países têm procurado o Ministério da Agricultura querendo cartas de garantia de que nós não vamos deixar de vender comida para eles”, revela Leandro Feijó.

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