Depois de um período de queda no segundo semestre do ano passado, a popularidade do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), apresenta sinais de recuperação. O agregador de pesquisas do JOTA mostra que o governo tem, atualmente, uma situação agora muito semelhante em termos de aprovação/reprovação do que tinha em junho de 2021. A avaliação negativa terminou a semana passada em 51,5%.
Especialistas ouvidos pelo JOTA apontam que o arrefecimento da pandemia de Covid-19 e o início do pagamento do Auxílio Brasil podem ter ajudado a estancar a queda da popularidade do presidente.
Conforme dados do agregador de pesquisas do JOTA, a diferença entre o índice de avaliação positiva e o índice de reprovação do presidente da República é a mais baixa desde julho de 2021. A ferramenta indica que o chefe do Executivo conta hoje com uma aprovação de 26% – se a eleição fosse hoje, receberia votação próxima desse valor. A rejeição soma 51%. Há quatro meses, esses números eram, respectivamente, de 24% e 54%. (Entenda no fim da matéria como funciona o agregador de pesquisas do JOTA)
A avaliação positiva de Bolsonaro é o dado mais importante para olhar no primeiro turno. O agregador de pesquisas aponta que a diferença entre os índices positivo e negativo do presidente foi para -23,8 pontos. Esse é o melhor patamar para Bolsonaro desde abril de 2021. Para mais chances no segundo turno, o ideal para Bolsonaro é que esteja no mínimo em + 20%.
O índice negativo de avaliação é o dado para se olhar no segundo turno. O eleitor costuma punir ou recompensar políticos que estão na cadeira, estabelecendo relação direta entre a sensação de melhora ou piora na vida e o voto. Em anos anteriores, apenas um terço dos que classificavam o governo como regular votaram no presidente em um segundo turno.
“Os presidentes no cargo que disputam a reeleição têm incentivos para alavancarem sua popularidade em anos eleitorais. Em janeiro de 2006, o ex-presidente Lula registrava uma avaliação positiva de 34% no consenso das pesquisas. Já em setembro, na véspera da eleição, sua avaliação estava em 46%. Em 2014, a situação foi um pouco diferente: em janeiro, a ex-presidente Dilma Rousseff era aprovada por 36% da população adulta. Esse número oscilou apenas marginalmente até setembro, registrando de 37% na véspera da eleição”, explica Daniel Marcelino, analista de dados do JOTA.
Além de estancar a queda na popularidade, pouco a pouco, Bolsonaro tem apresentado tendência de crescimento numérico nas pesquisas de intenção de votos. O agregador do JOTA mostra que, em setembro do ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparecia com 44%, o presidente, com 28%, e os demais candidatos tinham somados 21%. Atualmente, esses percentuais estão em 42%, 30% e 18%. A chance de vitória de Lula no primeiro turno, que já foi de 15% em setembro de 2021, está agora em menos de 1%.
Claudio Couto, cientista político e professor da FGV, declarou que os dados devem ser lidos com parcimônia, pois as oscilações, próximas da margem de erro das pesquisas, não permitem atestar categoricamente uma mudança de cenário, apenas abrem a possibilidade.
A análise foi corroborada pelo professor da UFPE Adriano Oliveira, segundo o qual ainda não é visível uma tendência clara. O especialista, entretanto, ponderou que o discurso envolvendo a guerra na Ucrânia e a pandemia podem beneficiar a popularidade de Bolsonaro. “Ele pode utilizar no discurso que o mundo está vivendo uma grave crise econômica e a viveu em virtude da pandemia e da guerra. E que o Brasil não está só no mundo. Por isso, sofre com os impactos.”
Para Oliveira, uma confirmação do aumento da popularidade presidencial sinalizaria que o eleitorado não responsabiliza Jair Bolsonaro pela crise. Uma variação negativa do indicador ou mesmo sua manutenção nos próximos meses mostraria, por outro lado, o reconhecimento de que o mandatário poderia ter feito mais, principalmente no âmbito da pandemia.
Até agora, nenhuma figura conseguiu capitalizar significativamente o gerenciamento da pandemia, destacou Felipe Berenguer, analista político da Levante. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), registra 2,6% das intenções de voto, segundo o agregador eleitoral do JOTA. Na opinião do especialista, a estratégia do presidente poderia funcionar, mas principalmente para sua base mais fiel.
O arrefecimento da crise sanitária, de todo modo, contribui para a avaliação do governo e é uma boa notícia para os bolsonaristas que observaram a rejeição do presidente disparar para cima de 50% durante a pandemia — um patamar que se mantém desde março do ano passado.
Outro motor da popularidade de Bolsonaro é o início do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400, no começo deste ano. Embora mais tímido do que o auxílio emergencial, o programa foi um dos estímulos à recuperação, disse Berenguer.
Medidas econômicas como o corte do IPI e o PL dos combustíveis não aparecem claramente nos dados. Câmbio, renda, inflação e pré-campanhas seguem sendo variáveis a se observar para a popularidade de Bolsonaro, afirmaram os especialistas.
Agregador de pesquisas, o que é?
O agregador JOTA é uma ferramenta exclusiva que leva em consideração mais de 600 pesquisas de opinião conduzidas no país nos últimos 34 anos, comparando 11 governos e 8 presidentes. São mais de 220 pesquisas nacionais coletadas apenas durante o governo de Jair Bolsonaro, uma média de pesquisa a cada 4 dias.
O JOTA prefere utilizar informações agregadas a basear-se em números de uma única pesquisa ou empresa. Cada instituto de pesquisa tem seu próprio método de seleção, coleta e análise das respostas. Por isso, o JOTA desenvolveu um modelo estatístico de agregação – o modelo proprietário – que permite comparar resultados de diferentes pesquisas, calibrando com base na performance passada de cada instituto.