Um dos pré-candidatos à Presidência da República, o coach motivacional e influenciador Pablo Marçal, do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), diz que não é “de esquerda, nem de direita, mas do alto”, e que vai “destravar a nação”, expressão constante usada em suas palestras.
O candidato coach tem discurso ensaiado quando perguntado sobre a eleição de outubro. “Quem perde eleição é o povo. É igual advogado. Advogado não perde causa. Quem perde causa é o cliente. Brasileiro é cliente quando ele tem o poder de votar”, disse Marçal em um vídeo publicado no seu Instagram, em 2 de junho.
Pablo Marçal estreia na vida política após ser confirmado como o nome do Pros, em 18 de maio. Duas semanas mais tarde, ele já pontuava 1% na pesquisa Datafolha divulgada em 30 de maio, na frente de nomes com anos de experiência, como o também pré-candidato Luciano Bivar.
Goiano, casado, pai de três meninos e uma menina, ele é o mais novo entre os nomes que se apresentaram até agora como pré-candidatos à presidência, com 35 anos – idade mínima permitida pela Constituição Federal para disputar o cargo.
Sucesso nas redes
Pablo Marçal tem número de seguidores parecido com o dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL). A página do pré-candidato do Pros no YouTube, por exemplo, tem 1,44 milhões de inscritos, mais que do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seguido por 1,01 milhão de pessoas – o filho 03 do presidente foi o deputado federal mais votado por São Paulo, em 2018.
Já a página no Instagram de Marçal é seguida por 2,2 milhões de pessoas, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente, tem 2,6 milhões de seguidores.
Questionado pelo JOTA se tem sido procurado por alguém do governo ou aliado de Bolsonaro por seu desempenho nas redes, Marçal respondeu por meio de sua assessoria de imprensa que recebeu “alertas de pessoas ligadas à equipe deles [do presidente] de que meu nome já está no gabinete do ódio”. E acrescentou: “Eles têm olhado porque sabem que vamos crescer durante a campanha e que o jogo ainda não começou. Eu tenho mais de 400 mil alunos no Brasil.”
Embora tenha sucesso virtual, Marçal não é reconhecido em seu partido. O senador Telmário Mota (Pros-RR) disse ao JOTA nunca ter “nem visto” o pré-candidato do partido e que “já tem compromisso com o presidente Bolsonaro”.
O posicionamento dá o tom de como foi a construção da candidatura de Pablo Marçal, apenas entre a direção do partido, o que vai refletir em ausências de palanques estaduais. Em Pernambuco, por exemplo, o Pros fechou com Marília Arraes (Solidariedade), que disputa o governo e vai aparecer ao lado de Lula. No Maranhão, a sigla costura acordo com o senador Weverton Rocha (PDT), que pretende ceder seu palanque a Lula e Bolsonaro.
O presidente nacional da legenda, Marcus Holanda, disse ao JOTA que o partido não vai fechar nenhuma federação e que os acordos regionais começaram a ser costurados antes do lançamento da candidatura de Marçal.
Mas para Holanda, subir em palanque não importa: a presença virtual de Marçal é sua aposta. Por isso, ele acredita que o resultado do último Datafolha, no qual o pré-candidato pontuou 1%, deve ser rapidamente superado “nas próximas semanas”, disse.
Mesmo sem apoiar Marçal, o desempenho do novato surpreendeu Telmário Mota. “Acabou de chegar e já está com 1%. A Simone [Tebet], aí há tanto tempo, com 2%. Acho que está indo muito bem. Acredito que chegue aos 6%, 7%”.
O cálculo de Holanda é juntar o alto engajamento no ambiente virtual com o histórico recente da influência que as redes sociais têm nas eleições para fazer o partido superar sozinho a cláusula de barreira, um dispositivo legal que restringe ou impede a atuação parlamentar de um partido que não alcança um determinado percentual de votos.
Para a Câmara, a cláusula de barreira determina que as siglas alcancem pelo menos 2% dos votos válidos distribuídos em 9 estados, com um mínimo de 1% em cada um deles; ou eleja pelo menos 11 deputados distribuídos em 9 unidades da Federação.
Marçal afirmou ao JOTA que chegou ao Pros após estudar os 33 partidos existentes no país e elegeu a sigla por ter sido a única “que abriu as portas sem exigir nada em troca, além de um projeto de país”. Mas, na prática, as coisas não foram bem assim. Segundo Marcus Holanda, pesou para a escolha de Marçal ainda sua “independência financeira”. “Não haverá investimento de nenhum dos fundos no pré-candidato”, disse.
A legenda está no meio de uma disputa judicial justamente envolvendo verba pública. Holanda assumiu o comando do Pros também em março, dias antes da filiação do pré-candidato, após uma decisão da Justiça de Goiás, que acusa o ex-dirigente da legenda, Eurípedes Júnior, de usar dinheiro dos fundos partidário e eleitoral irregularmente. Segundo a Veja, R$ 5 milhões desse montante foi usado por ele para pagar salários de parentes entre 2018 e 2022.
A candidatura de Pablo Marçal
Pablo Marçal disse, em vídeo publicado na internet, que a decisão de concorrer em 2022 apareceu como um “chamado” enquanto escalava uma montanha nos Estados Unidos.
“Eu estava em uma montanha no Tennessee e recebo um recado no meu coração e, ali, uma explosão em relação à nação começa a incendiar meu coração pedindo para eu virar a minha energia e foco para atividades públicas”, disse, falando ainda em “amor pelo povo e pela nação”.
A fala lembra o discurso adotado pelo então pré-candidato à presidência pelo Patriota em 2018, Cabo Daciolo, que passou parte de sua campanha em oração no Monte das Oliveiras, em Campo Grande, no Rio de Janeiro.
Coincidência ou não, foi um episódio em uma montanha que tornou Marçal amplamente conhecido no país. Em janeiro deste ano, ele levou um grupo para escalar o Pico dos Marins, em São Paulo. Depois de uma forte chuva que arrastou barracas, 32 pessoas precisaram ser resgatadas sob risco de hipotermia, em uma operação do Corpo de Bombeiros que durou nove horas. Marçal é investigado por tentativa de homicídio pelo caso, e a Justiça paulista ainda não conseguiu intimá-lo de uma decisão que o proibiu de fazer atividades similares ao ar livre.
No vídeo na sua página, Marçal minimiza o ocorrido. “Fiquei conhecido por subir uma montanha com pessoas em uma tempestade. Ninguém se machucou e essas pessoas tiveram uma de suas maiores experiências de vida. Uma turma não gostou e eu aprendi muito com isso”.
Aliás, algo que repete em muitos momentos do vídeo de quase meia hora é que sua “marca pessoal é multiplicar talentos”. Mas além de não gostar de ser denominado “outsider”, também rejeita o título de coach. Em entrevista recente ao “O Antagonista”, disse que nada do que estudou o define.
Ele busca se colocar como uma opção a Lula (PT) e Bolsonaro, aos quais, com alguma frequência, chama, respectivamente, de “cachaceiro” e “adolescente desequilibrado”. Em suas entrevistas, vídeos e postagens, mais do que críticas, faz comparações da polaridade existente atualmente com personagens pitorescos de sua época de infância, Tom & Jerry.
Fala ainda na necessidade de fazer uma reforma política e de acabar com a reeleição, o que também foi uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro em 2018.
Formado em Direito, Pablo Marçal defende ainda uma revisão da Constituição, que diz ser “inchada” e defende privatizações em geral. E também se diz a favor da cobrança de mensalidades em Universidades Federais, embora ele próprio seja fruto de escolas públicas, defende privatizações.
Formação profissional
Depois de oito anos trabalhando na OI Brasil Telecom, dos 18 aos 26 anos, onde passou por cargos de treinamento, RH, e chegou a ser executivo da TV por assinatura, banda larga e vendas em Goiânia, deixou a empresa para empreender.
Durante os primeiros anos que trabalhou na Brasil Telecom, cursou Direito e diz que tinha o sonho primeiro de ser delegado federal, depois promotor. Mas acabou encontrando oportunidades no mundo dos negócios.
Entre seus relatos sobre seu sucesso profissional, afirma já ter falado para mais de 500 mil pessoas pessoalmente e para 400 mil alunos em alguma mentoria. Fala ainda que, juntando todas as plataformas, hoje é assistido por 10 milhões de pessoas.
Morando em São Paulo desde 2019, ele afirma que leva uma “vida simples” em uma mansão em Alphaville. Diz ter se tornado piloto de corrida e está fazendo curso para ser piloto de avião. “Quero pilotar meu próprio jato, meu próprio helicóptero”.
Marçal tem 25 livros publicados, entre eles Oito caminhos para a riqueza, O destravar da inteligência emocional, Destravar digital, Antimedo, entre outros.