Inovação

O LIFT Learning do Banco Central

A edição piloto do Distrito Federal

BC
Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O LIFT Learning é uma política pública do Banco Central com objetivo de incentivar comunidades/ecossistemas de fintechs em todo o Brasil[1][2]. O desenho do programa une empresas do setor financeiro (bancos, instituições de pagamento e fintechs) a universidades para desenvolvimento de soluções tecnológicas que, ao mesmo tempo, atendam à necessidade da empresa participante e possibilitem uma jornada intensa de aprendizado prático aos participantes.

O objetivo do programa é a formação de estudantes como atores efetivos em tecnologia financeira e agentes no processo de digitalização do sistema financeiro.

O desenho do programa, no sentido de primeiro formar os agentes de mudança, e não fintechs diretamente, segue as particularidades do setor financeiro:

  1. setor pesadamente regulado sendo que o conhecimento regulatório é provido por grandes bancas de advogados a elevado custo e inacessível, portanto, a estudantes;
  2. os modelos de negócio (crédito, investimento, pagamentos, seguros) não são intuitivos e o empreendedorismo financeiro requer experiência. Estudantes raramente terão essa experiência;
  3. a própria tecnologia utilizada no setor tem demandas críticas (risco cibernético, controle de fraudes, lavagem de dinheiro) que não são típicas de outros setores. Desse modo mesmo a tecnologia necessária estará, usualmente, fora do alcance dos estudantes.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez uma síntese dos objetivos do programa ao lançar o LIFT Learning em 2019:

“Entre os benefícios esperados pela iniciativa, pode-se delinear o incentivo a concorrência pela construção de soluções para as entidades participantes do LIFT Learning, o fomento ao empreendedorismo na formação universitária através da proposição de projetos reais, preparando os estudantes para desafios do mercado financeiro e alinhamento dos esforços acadêmicos a agenda estratégica do setor financeiro buscando acelerar o processo de transformação digital do setor.”

O site do Governo Federal sobre programas de fomento oficiais coloca a motivação do LIFT Learning como:

O LIFT Learning é uma spin off do programa LIFT Lab. Ao longo do desenvolvimento do programa LIFT Lab verificou-se um baixo alinhamento com as iniciativas do mercado e a disponibilidade de profissionais alinhados com essas demandas. Viu-se que os problemas priorizados nos trabalhos acadêmicos no Brasil têm viés internacional. Identificou-se também que os problemas da indústria financeira não estão caracterizados de modo a receber o interesse das universidades. O programa tem a motivação de caracterizar os problemas brasileiros no setor e encaminhar para um tratamento científico, com apoio das agências de fomento e participantes do sistema financeiro[3].

Ao final do programa, espera-se que os estudantes consigam propor ideias de fintechs em editais de inovação, iniciar novos negócios financeiros ou, até mesmo, se juntar a empresas financeiras existentes. É, portanto, além de um programa desenvolvedor de projetos, uma experiência formadora de profissionais para o setor.

A edição piloto DF

A edição piloto no Distrito Federal em 2020[4]  foi realizada pelo Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de Brasília (UnB) com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, FAPDF. Foram selecionados 60 bolsistas divididos em quatro projetos/empresas (na 4ª nota de rodapé há um link para apresentação com detalhes sobre os projetos desenvolvidos e mais informações sobre a edição piloto):

  1. Banco de Brasília (BRB): sistema de gestão para pequenas empresas integrado ao Pix;
  2. bxblue: vídeo contrato (onboarding) para contratação totalmente online;
  3. VamosParcelar: carteira digital para integrar a fintech ao Pix (cash back, QR code dinâmico);
  4. PagueVeloz: sistema completo de gestão de benefícios (alimentação, refeição, etc.) totalmente integrado ao Pix.

Os estudantes selecionados receberam bolsa de pesquisa de modo a possibilitar maior dedicação ao projeto. Além disso, com a bolsa, a escolha das empresas/projetos independe da capacidade da empresa de financiar o programa, o que possibilita a participação de fintechs menores.

Na edição piloto as bolsas foram concedidas pela Fundação de Apoio à Pesquisa do DF, FAPDF. As empresas parceiras, cumprindo missão social relevante, se encarregaram do gerenciamento das equipes e alinhamento do desafio a problemas reais do mercado.

A edição piloto DF do LIFT Learning se conformou ao que se conhece sobre incentivos a ecossistemas de inovações?

Segundo Daniel Eisenberg, por exemplo, em The Big Idea: How to Start an Entrepreneurial Revolution, há nove sugestões para criar um ecossistema empreendedor. Dentre elas estão:

  1. modelar o ecossistema em torno de condições locais,
  2. engajar o setor privado de início;
  3. favorecer empresas de alto potencial;
  4. celebrar o sucesso;
  5. enfrentar barreiras culturais de frente;
  6. ênfase no enraizamento, fortalecer o existente e não distribuir dinheiro fácil;
  7. favorecer crescimento de agrupamentos que já são naturais ao ambiente e não forçar.

O LIFT Learning, como executado na edição piloto DF, atendeu a todas essas prescrições: a edição piloto no Distrito Federal procurou alavancar as vantagens locais do DF como presença da sede de grandes bancos (CEF, BB, SICOOB, BRB), uma cena emergente de fintechs (bxblue, VamosParcelar, Zapay) e o regulador, o Banco Central. O setor privado participa desde o início trazendo projetos e expertise técnica.

Pelo acima entendemos que o LIFT Learning serve como exemplo concreto de política pública com capacidade de estender o alcance da economia do conhecimento e mudar para melhor as possibilidades da região onde for executado.

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[1] https://www.gov.br/startuppoint/pt-br/programas/lift-learning

[2] https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/510/noticia

[3] https://www.gov.br/startuppoint/pt-br/programas/lift-learning

[4] https://indd.adobe.com/view/42384ea4-e280-4a9e-9f9d-1b0169adda32

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