As últimas semanas no Brasil têm sido especialmente difíceis. Os números de casos e mortes por Covid-19 seguem estabilizados em patamares muito altos. Ao mesmo tempo, a vacinação, única esperança para que possamos voltar a algum grau de normalidade, está muito aquém do que necessário.
Diante de um cenário tão desafiador é preciso esforço conjunto de toda a sociedade para o enfrentamento das questões que são urgentes e demandam respostas rápidas e determinantes para salvar vidas. E a pandemia tem deixado evidente que o papel da sociedade civil tem sido fundamental para combater a covid-19 e seus efeitos perversos.
Falei recentemente, junto com Ana Fontes, fundadora e presidente do Instituto Rede Mulher Empreendedora, e Luiza Helena Trajano, Presidente do Conselho da Magazine Luiza, na Brazil Conference at Harvard & MIT 2021, sobre como a crise atual é efeito de uma emergência ambiental, e como teremos que trabalhar conjuntamente para enfrentar desafios que ameaçam a nossa própria existência no planeta. O empreendedorismo social, certamente, é uma dessas estratégias de atuação coletiva.
As diversas iniciativas que permeiam o empreendedorismo social partilham do mesmo desejo: enfrentar problemas que afetam milhares – por vezes, milhões – de pessoas. Isso sem abrir mão do aspecto financeiro, ou seja, quando não garantem um retorno para seus fundadores, sempre buscam a sustentabilidade da operação.
Esta é uma potência especialmente transformadora para nosso país. Primeiro, porque o Brasil tem o empreendedorismo correndo em suas veias. Por aqui, somos mais de 52 milhões de empreendedores. Segundo, somos marcados por desafios históricos e por um contexto de desigualdades e vulnerabilidade social que impulsionam o desenvolvimento de soluções inovadoras. Com a pandemia, esses problemas ficaram ainda mais evidentes, graves e urgentes, demandando inovação e tecnologia para serem enfrentados.
Empreendedorismo social durante a pandemia
A boa notícia é que o Brasil também é uma referência quando falamos sobre empreendedorismo social, e a crise causada pela pandemia impulsionou ainda mais a atuação e o surgimento de iniciativas similares, muitas delas desenvolvidas por empresas tradicionais.
O Magazine Luiza, por exemplo, doou mais de R$ 40 milhões para projetos de combate aos efeitos da crise de covid-19 no país. O valor foi destinado à compra de cestas básicas e de equipamentos para hospitais em todo o Brasil e ao auxílio a centros de longa permanência para idosos. Além disso, projetos de apoio ao ensino à distância e de combate à violência contra a mulher também foram contemplados.
Em 2020, um grupo de 8 organizações – Ambev, Americanas, Itaú Unibanco (Todos pela Saúde), Stone, Instituto Votorantim, Fundação Lemann, Fundação Brava e a Behring Family Foundation – uniram esforços para equipar e financiar a infraestrutura necessária à produção da vacina contra a Covid-19.
Já a Rede Mulher Empreendedora, que apoia o empreendedorismo feminino no Brasil, teve no ano passado, apesar das dificuldades da pandemia, a maior captação de recursos da história. Foram levantados R$ 45 milhões para projetos sociais dentro da organização. As grandes empresas olharam para esse universo, principalmente para os pequenos negócios, e se prontificaram a ajudar de alguma forma. Foram realizadas ações para garantia de renda de mulheres e formação profissional.
No BrazilLAB, primeiro hub Govtech que fundei há 5 anos, também buscamos trazer a nossa contribuição. No ano passado, lançamos o Programa Força-Tarefa Covid-19 e, em uma versão 100% online, aceleramos 60 startups, pequenas e médias empresas que apresentavam soluções para combater os desafios nas áreas de educação, inclusão produtiva e digitalização dos governos.
E não para por aí. Temos assistido a união de empreendedores, que doaram recursos para diferentes iniciativas sociais, como as que buscam apoiar pessoas em situação de vulnerabilidade. A Gerando Falcões, liderada por Edu Lyra, é um desses exemplos e, com o “Corona no Paredão, Fome não” já conseguiu arrecadar mais de 16 milhões de reais para a compra de cestas básicas, que devem impactar mais de 53 mil famílias. Iniciativas como o Movimento União Rio e a União São Paulo buscam fazer o mesmo.
Nesse movimento, estamos assistindo a profissionalização dos empreendimentos sociais, que se estruturam, se organizam e criam uma metodologia que garante impacto e sustentabilidade. Não se trata somente de caridade, mas de ações estruturadas que possam gerar transformação social.
O que esperar do empreendedorismo social no futuro?
Estou certa de que o empreendedorismo social será a grande potência transformadora do Brasil na próxima década. Afinal, precisaremos de ferramentas que nos ajudem a combater os efeitos tão perversos deixados ou acentuados pela crise atual.
Os desafios para fazer com que tudo isso caminhe, talvez, seja bem maior daqui para frente. Temos assuntos latentes que precisam ser resolvidos e que não podem mais esperar.
Mas, não tenho dúvida que veremos um movimento de empreendedores que queiram ajudar o Brasil a crescer e ser bem melhor. Há demanda, interesse e abertura para que esse ecossistema cresça e prospere. E o melhor: todos e todas temos a ganhar.