Integridade

‘Sem confiança e sem credibilidade, os negócios não avançam’, diz Augusto Nardes

Ministro do TCU participou de debate sobre por que razão o compliance é bom para os negócios

Augusto Nardes
O ministro do TCU Augusto Nardes / Crédito: Reprodução

Face mais conhecida dos programas de compliance, a relação entre empresas e governos passou por relevantes melhorias nos últimos anos, segundo a opinião dos participantes da primeira mesa do 2º Encontro de Compliance do Grupo J&F, mas ainda há muito a avançar. 

“O país precisa de confiança”, disse o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes. “Sem confiança e sem credibilidade, os negócios não avançam”. Do lado do poder público, o ministro lembrou que, em 2015, apenas cinco ministérios possuíam processos de avaliação de risco. “Ou seja, tomam decisões de bilhões de reais e acabam jogando dinheiro no lixo porque erram”, já que não é feita a avaliação de risco. Hoje, segundo Nardes, todos os ministérios e estatais do Executivo federal adotam algum procedimento do tipo.

Em uma discussão sobre por que ter programas de compliance sólidos é uma boa decisão de negócios, Nardes dialogou nesta segunda-feira (6/12) com Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, e José Figueira, sócio da consultoria EY. A mediação foi de Marcelo Proença, diretor global de Compliance da JBS. 

“Existem motivos muito claros do ponto de vista financeiro, de reputação, mas eu gostaria de ir além”, afirmou Magri, desenvolvendo um argumento que foi consensual entre os presentes: “Nós precisamos mudar para uma cultura de integridade. Não existe a possibilidade de uma sociedade, de um país, de um grupo grande como o J&F ser sustentável no tempo, fazer uma contribuição de desenvolvimento efetivo, se não tivermos uma cultura de integridade.”

Da cultura em que uma organização está inserida à prática do compliance no cotidiano, muitas variáveis estão envolvidas. Adotando uma metáfora simbiótica, Figueira detalhou: “É um ecossistema que envolve as nossas pessoas, os nossos fornecedores, as empresas do grupo, o nosso relacionamento com o governo, com empresas públicas, com empresas internacionais”.

Para o sócio da EY, “é necessário estabelecer algum tipo de linguagem, de mecanismo, em que uma empresa consiga enxergar na outra o conforto de negociar, sinta segurança em estabelecer essa dinâmica de comércio”.

Também falando sobre o setor público, Magri, do Instituto Ethos, colocou como principal obstáculo expandir boas práticas de governança e compliance a entes federativos com menos recursos. “Existe um desafio muito grande de capilarizar”, resumiu. “Nós temos quase 6.000 municípios no Brasil. Temos que saudar as controladorias gerais dos estados, a regulamentação local e estadual da Lei de Acesso à Informação, mas ainda não é suficiente.”

“A minha conclusão é que avançamos nos últimos 20 anos nos aspectos institucionais, regulatórios e de cultura na sociedade, para que o Brasil se coloque de forma diferente, mas a gente tem muitos desafios pela frente”, disse o diretor-executivo do Instituto Ethos.

Reverberando a ideia de que mudanças culturais são necessárias para derrubar barreiras, Figueira opinou que os processos e mecanismos de compliance das empresas devem fortalecer a ideia de que os colaboradores são agentes ativos: “As pessoas que exercem os controles, as pessoas que são fiscalizadoras”, afirmou. “A principal fonte em canais de denúncia são as pessoas. Elas estão ali como donas do negócio, porque são afetadas.”

E a discussão se conecta no ponto principal: agir de forma ética e em conformidade com as leis é bom para todos, principalmente para os negócios. 

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