Empreendedorismo

Inadimplência atinge menor patamar entre os pequenos negócios desde o início da pandemia

Acesso ao crédito pode ajudar no processo de recuperação das empresas de pequeno porte, mas requer cuidados

MEIs micro e pequenas empresas
Crédito: Unsplash

Após os reflexos mais drásticos da pandemia, o cenário de recuperação começa a se consolidar entre os empreendedores de pequeno porte no país. A inadimplência atingiu, em agosto, o menor patamar desde o início da crise sanitária. A proporção de micro e pequenas empresas inadimplentes, incluindo os microempreendedores individuais (MEI), é de 24%, conforme pesquisa do Sebrae e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com o levantamento, o maior índice (41%) foi registrado no fim de maio e início de julho de 2020.

Outro dado positivo do levantamento, chamado Pulso dos Pequenos Negócios, é que 37% desses empreendimentos estão com as dívidas sob controle, enquanto 39% não apresentam débitos. No mesmo período do ano passado, em levantamento semelhante feito pelo Sebrae e pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), os percentuais eram de 35% tanto para as empresas com dívidas em dia quanto para as empresas sem débito algum. Apesar da melhora, metade dos negócios ainda compromete 30% dos custos mensais com débitos.

“Tudo aponta que os reflexos da pandemia estão ficando para trás, principalmente no setor de serviços. Hoje a gente já não sofre mais com a pandemia, mas com o dia a dia da economia”, avalia Marcelo Fonseca, sócio e economista da consultoria HLB Brasil, especializada em serviços de contabilidade.

Infográfico: Sebrae

O presidente do Sebrae Nacional, Carlos Melles, reconhece o esforço dos empreendedores em colocar as contas em dia. “Bastou melhorar um pouco o faturamento médio das empresas que a inadimplência caiu. Isso prova o quanto os donos de pequenos negócios são comprometidos e bons pagadores”, avalia.

Ainda de acordo com a pesquisa, um terço dos pequenos negócios do país procuraram por empréstimos em instituições financeiras nos três meses anteriores ao levantamento. No entanto, apenas quatro entre 10 deles conseguiram o crédito.

Infográfico: Sebrae

Melles destaca que o acesso ao crédito, impulsionado durante a pandemia para os pequenos negócios, foi decisivo para a sobrevivência das empresas e a consequente retomada econômica. “Vamos continuar defendendo uma política de crédito mais acessível para os donos de pequenos negócios que neste ano foram responsáveis por mais de 70% dos empregos com carteira assinada gerados no Brasil”, declarou.

Uma das linhas de crédito que tem contribuído neste cenário é o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) que concedeu mais de R$ 37,5 bilhões em 2020 para 517 mil empreendedores e R$ 24,9 bilhões para 334 mil empresas no ano passado. Neste ano, estão previstos R$ 50 bilhões.

“É um fator novo e positivo para o pequeno empreendedor porque vem para suprir uma demanda que não existia no setor bancário, que não tinha essa linha de crédito com esse custo para o pequeno empreendedor”, considera Marcelo Fonseca.

Luiz Felizardo Barroso, consultor financeiro e presidente da Cobrart , empresa de recuperação de crédito, enfatiza que os pequenos negócios historicamente sofreram por não ter acesso a crédito. Ele pondera, no entanto, que se trata de uma necessidade, já que nem sempre o microempreendedor tem capital próprio para tocar suas operações. “O crédito responsável pode, efetivamente, ter um papel relevante na recuperação dos pequenos negócios”, comenta.

Infográfico: Sebrae

O nível de endividamento aceitável para um pequeno negócio deve levar em consideração o seu fôlego para pagamento. “O endividamento máximo da empresa de pequeno porte não deveria ser superior a três faturamentos mensais ou entre 20% a 30% do faturamento anual”, sugere a especialista em crédito e reestruturações de operações Angela Costa.

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