Os ganhos sociais associados ao avanço tecnológico alcançaram ainda mais relevância diante das dificuldades de acesso à tecnologia que foram escancaradas pela pandemia da Covid-19. A crise, que forçou toda a sociedade a adotar medidas de isolamento, prejudicou de forma desigual as crianças, adolescentes e jovens que vivem em situação de vulnerabilidade, sem acesso a uma internet de qualidade.
Essa realidade demonstrou a importância de que haja a democratização tecnológica, que tem potencial de impulsionar a acessibilidade, o conhecimento, o empreendedorismo jovem e os negócios de impacto social. Esse entendimento foi apresentado no webinar “Ganhos sociais gerados pelo avanço da tecnologia” realizado nesta quinta-feira (19/11) pela Casa JOTA, em parceria com a Claro.
Participaram da conversa Roseli de Deus Lopes, diretora do Laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo, Daniely Gomiero, diretora de comunicação da Claro, Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, e Rafael Cunha, general manager do Descomplica.
“Como a gente usa a tecnologia para gerar o acesso ao conhecimento, que é tão caro para nós hoje, e também ficou mais nítido nesse momento sobre a importância da acessibilidade e da colaboração? Hoje, conexão tem que gerar acessibilidade, sim, e tem que gerar também conhecimento, empreendedorismo e negócios sociais”, afirmou Daniely Gomiero.
A diretora da Claro citou como exemplo iniciativas da empresa de comunicação que pensam na tecnologia como forma de impulsionar o empreendedorismo jovem. “Eu posso chegar com o 5G, como fizemos em Paraisópolis. Mas aí também estamos falando de inclusão. Trazemos a possibilidade para que, junto com os moradores da comunidade, pensemos quais são as necessidades deles, quais são os problemas reais que eles enfrentam”.
Nesse sentido, explicou Roseli de Deus Lopes, a conectividade permite desenvolver competências nas crianças e nos adolescentes sobre inovação social. Há, no entanto, um desafio de convencer sobre a relevância desse tipo de iniciativa.
“A inovação social, que é a mais importante de se desenvolver, nós temos que começar a trabalhar mais cedo para que o jovem perceba que vai conseguir gerar recursos financeiros com empreendimentos sociais. Hoje, a mentalidade do brasileiro é que se eu fizer algo social, não vou poder cobrar nada. Mas se não cobrar, não tem como se dedicar”, disse Gomiero.
Desafios de avançar a tecnologia na educação
Para Florence Bauer, da Unicef, o ponto central da questão envolvendo a falta de conexão universal está no fato de que as crianças e adolescentes do Brasil que não têm acesso à internet estão há pelo menos dez meses sem uma educação de qualidade, enquanto aqueles que têm conexão seguem aprendendo.
“Olhando antes da pandemia, o Brasil já enfrentava uma série de desafios. Temos um número de 5,5 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. E outros 6,5 milhões com defasagem de série. Esse é um público que está em uma situação de risco de abandono. O Brasil já é um dos países com um dos períodos mais longos de fechamento escolar. Em um contexto como esse, é fundamental se preparar quanto à reabertura das escolas, que já não pode esperar mais, e, em paralelo, uma busca ativa dessas crianças fora da escola”, disse.
“Como Unicef estamos sumamente preocupados com o fato de as escolas estarem fechadas ainda no Brasil. Essa é a região do mundo que tem o período mais longo de salas fechadas. O que estamos vendo é que a vasta maioria das crianças e adolescentes está perdendo a parte presencial de um ano letivo inteiro. Estamos preocupados em, eventualmente, perdermos uma geração. Perder um ano para um adulto é duro, mas para uma criança e um adolescente em fase de desenvolvimento, isso tem um impacto muito profundo”, prosseguiu Bauer.
Neste contexto, o papel da tecnologia na educação é mais fundamental do que nunca, na visão de Rafael Cunha, do Descomplica.
“Quando a gente fala de educação, não é só o conteúdo, mas ele tem que ser passado de uma forma super legal. A tecnologia está aí para isso, você consegue democratizar a educação, não no sentido pleno, mas é um processo”, pontuou Cunha.