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Sotero: se eleito, Biden retomará diplomacia com Brasil abandonada por Trump

Ex-diretor do Brazil Center no Wilson Center falou sobre as implicações das eleições americanas para o Brasil

Paulo Sotero (à esq. e abaixo) em entrevista na Casa JOTA / Crédito: Reprodução

O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia conquistado o voto de 253 delegados até as 21h45 desta quarta-feira (4/11), à frente do presidente Donald Trump, candidato republicano à reeleição, que somava 214 delegados. Para ser eleito presidente, um dos candidatos precisa chegar ao número de 270 votos.

Em webinar da Casa JOTA sobre o que o resultado das eleições americanas significa para o Brasil, Paulo Sotero, Distinguished Fellow e ex-diretor do Brazil Center no Wilson Center, afirmou que as implicações de uma eventual derrota de Trump são muito significativas.

Ele explica que muitos políticos republicanos se sentirão libertados, com a derrota de Trump. “Tendo uma figura como o Biden, que passou 40 anos no Senado e mais oito na Casa Branca, conhecendo todos os políticos, eles vão se sentir mais confortáveis.”

Sotero diz que, para o Brasil, o importante é que os Estados Unidos voltarão a fazer uso da diplomacia, “uma coisa que havia sido praticamente abandonada pelo Trump”, pontua. “O principal objetivo no governo do Trump era o próprio Trump: a promoção da sua imagem, dos seus interesses, dos seus amigos”, critica. 

Segundo Sotero, os atuais pontos de interesse do Brasil para os EUA são a nossa estrutura de desenvolvimento da vacina, que acredita ser “um espaço muito bom de cooperação das comunidades científicas entre os dois países”, e nossas políticas ambientais.

O jornalista entrevistou o ex-vice-presidente Biden há 20 anos, e afirma que “ele é uma pessoa afabilíssima, gosta das pessoas, não é pretensioso, mesmo comparado com outros líderes democratas.”

“O Biden é uma figura da política, da tradição americana. Acredito que irá içar muitas pontes para o lado dos republicanos e democratas também. O desafio dele será com a esquerda do Partido Democrata”, completa.

Sobre a judicialização das eleições, ameaçada por Trump, Sotero afirma que é o pior cenário para o país e que Suprema Corte deve preservar a sua própria credibilidade. “O Trump escolheu três membros, mas os juízes não se orientam pelo Trump”, diz.

Sotero também acredita em uma nova onda de lideranças mais moderadas no mundo. “Não é mais a relação tradicional, na qual o presidente dos EUA é eleito e todos os países correm para prestar vassalagem. Os EUA perderam muito poder nesta administração.”

Por fim, na mudança do quadro político, afirma que o Brasil deve perceber que tem que ajustar algumas coisas para tentar abrir espaços de diálogo com a Casa Branca em busca de cooperação. 

“A preocupação agora é com políticas públicas globais, como a política climática, que exigem mais intervenção do governo e de uma forma mais inteligente”, afirmou. Questionado sobre o apoio de Bolsonaro a Trump, Sotero aconselhou o presidente a ler mais “sobre o Barão do Rio Branco e saber que não devemos interferir nos assuntos de outros países”.

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