PRESIDENTE DA CAIXA

Pedro Guimarães diz que pandemia mudou sua percepção sobre importância da Caixa

Ao JOTA, presidente do banco falou sobre como percebeu o impacto do auxílio emergencial na vida dos brasileiros

Pedro Guimarães, presidente da Caixa
Pedro Guimarães, presidente da Caixa / Foto: reprodução

Quando Pedro Guimarães assumiu a presidência da Caixa Econômica Federal, no início de 2019, havia uma expectativa de que o foco de sua gestão seria na agenda de privatizações. Pouco menos de dois anos no cargo, e com a responsabilidade de enfrentar uma crise da magnitude da pandemia da Covid-19, suas percepções mudaram totalmente.

Em entrevista exclusiva concedida nesta terça-feira (3/11) ao JOTA, Guimarães relatou que durante os mais de 80 fins de semana já viajados ao redor do Brasil mostraram a ele — e a toda a sua equipe — algo que ninguém imaginava sobre o impacto social da Caixa na vida dos brasileiros.

“”No interior do Alagoas tinha um senhor de 75 anos, que teve um AVC dois meses antes e passava 8h por dia descascando mandioca. Primeiro, [percebemos] o que o auxílio emergencial ajudou essas pessoas e, segundo, o quão distante elas estão se não houver uma ajuda governamental. A Caixa está presente em todos os municípios do Brasil, com exceção de seis. Não tem nenhum órgão governamental com essa capilaridade”, disse.

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Segundo o presidente da Caixa, essa mudança de visão pode ser observada em relação à prioridade de concessão de créditos aos empresários do país. Antes da sua gestão, relatou, o banco público tinha como foco grandes companhias. Um dado inédito divulgado por Guimarães é de que a Caixa tinha empréstimos de R$ 25 bilhões com duas empresas. Hoje, o mesmo montante atende cerca de 200 mil empresários.

“Essa é uma mudança muito importante: dessas 200 mil empresas, 70% não eram clientes da Caixa. Então, quando falo que a Caixa hoje é o banco da ‘padaria do Seu Joaquim’, ela é, de fato”, disse, acrescentando que ofertar mais microcrédito é um dos principais objetivos para os próximos meses — impulsionado também pela transformação digital em curso atualmente no banco.

“Queremos oferecer a 10 milhões de brasileiros um crédito de até mil reais, o que será fundamental, porque as taxas são menores. Não poderíamos ter microcrédito sem banco digital. Não vamos ofertar microcrédito nas agências, é impossível. Teríamos um problema enorme e não teria eficiência realizar empréstimo de R$ 300, R$ 500 para 10 milhões de pessoas nas agências”.

Transformação digital

A operação de guerra realizada pela Caixa no início da pandemia da Covid-19 para pagar o auxílio emergencial colocou em evidência uma lacuna digital do banco, que não tinha até então uma modalidade de conta digital.

Nos últimos meses, foram pagos via conta digital benefícios sociais a 90 milhões de pessoas. Desde o início da pandemia foram abertas contas digitais para 33 milhões de brasileiros que não tinham registro em nenhuma outra instituição financeira.

“Existe hoje uma necessidade pela eficiência digital. Na minha opinião, o PIX é transformacional, mas vai ser implementado em etapas. Quando viajamos para um lixão no Sul da Bahia vimos realidades totalmente diferentes. Nós vivemos mundo diferentes”, disse Guimarães.

Nessa visita à Bahia, disse, eles encontraram catadores de lixo que não tinham sequer CPF. Ao mesmo tempo, os mais jovens já usavam o aplicativo do Caixa Tem. “Os mais novos, por exemplo, nem iam retirar [o auxílio] na agência. Eles me falaram: para ir à agência e voltar eu gasto R$ 100 reais só de transporte. Então essa questão é muito impactante”;

Agora, afirmou Guimarães, a ideia é começar a pagar os benefícios sociais a partir do banco digital. “Não significa que as pessoas não podem ter a conta poupança na Caixa, mas queremos oferecer a opção de uma conta de graça, para quem mora longe e às vezes não tem agência”, disse.

Segundo estimativa, a partir de janeiro cerca de 35 milhões de brasileiros devem começar a receber os benefícios sociais pelo banco digital. “O que estamos fazendo no Brasil em relação aos pobres, em termos financeiros, é exatamente que essas pessoas não precisem viajar e perder 20% da sua renda e possam usar o aplicativo”. 

Acerca da possibilidade de ser implementado um novo programa de renda básica, que ainda está em estudo no Ministério da Economia, Guimarães disse que a Caixa está totalmente preparada para realizar o pagamento que for necessário.

“Meu foco é a Caixa Econômica Federal, então essa discussão [para substituir o auxílio emergencial] é liderada pelo ministro Paulo Guedes e obviamente por Jair Bolsonaro, que tem uma enorme preocupação com a classe de renda menor. Não tenho dúvida de que há uma discussão sobre isso, mas é preciso encontrar uma viabilidade econômica de longo prazo. O presidente Bolsonaro é o primeiro a reforçar que não há como realizar uma política de transferência de renda sem uma instabilidade financeira de inflação a longo prazo, com uma estabilidade fiscal de longo prazo”, afirmou.

O presidente do banco acrescentou, ainda, que isso fica mais fácil uma vez que os beneficiários já têm a conta digital. “A Caixa também cobra muito menos do Tesouro Nacional para realizar as operações de pagamentos assistenciais e, pelo banco digital, podemos cobrar metade do que hoje se cobra. A consequência é menos dinheiro sendo pago e mais dinheiro sobrando”.

Planos futuros

Programas voltados para crédito habitacional e dar seguimento ao IPO da Caixa Seguridade são os dois planos que estão no radar do banco para os próximos meses.

No que compreende os projetos de habitação, a ideia é ganhar espaço para o empréstimo imobiliário voltado para a classe média. “A Caixa é o banco da habitação, mas quando nós assumimos estava em quarto lugar o empréstimo imobiliário para a classe média de renda, com recursos de poupança. Tinha 99% da classe baixa de renda e menos de 20% da classe média”, afirmou.

Para Guimarães, ampliar o foco para essa parcela da população é estratégico porque o crédito imobiliário “cria uma relação com o cliente de 30, 35 anos”. “Nos países desenvolvidos, a principal estrutura de crédito dos bancos é o imobiliário. Isso será cada vez mais forte”.

Já sobre o IPO da Caixa Seguridade, que está pronto, a intenção é esperar uma tranquilidade no mercado para seguir com o plano. “Antes da última suspensão já tínhamos três vezes mais demanda do que o volume de oferta. Então fico feliz que as pessoas veem na Caixa esse equilíbrio entre o banco social e o banco da matemática”.

“Objetivamente, há demanda, mas nós não vamos vender se não houver tranquilidade no mercado. Participei de 50 aberturas de capital, o que não pode ter é volatilidade. Pode até ter mercado com um preço menor, mas não pode a Bolsa de Valores subindo 2% um dia e caindo 2% no outro”, explicou.

Após passar a eleição nos EUA, a possível segunda onda da Covid-19 e as discussões internas, o projeto voltará a ser colocado em prática, revelou. “Não posso oficializar ainda por causa de discussões que ainda são necessárias, mas seria natural nós voltarmos a partir da próxima janela do ano que vem”.

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