WEBINAR DO JOTA

Latam prevê volume de passageiros similar a período anterior à pandemia só em 2023

Jerome Cadier, CEO no Brasil, revela que até agora companhia não conseguiu empréstimos para capital de giro

Latam
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil: “Nenhuma companhia aérea vai sobreviver sem fazer adequações no seu tamanho”. Crédito: Jorge Araujo/Fotos Públicas

A Latam Brasil espera voltar a ter em 2023 o número de passageiros que teve ao longo do ano passado. Além disso, por ora, a companhia aérea descarta a possibilidade de operar com menor capacidade para permitir um distanciamento maior entre os passageiros. “O impacto financeiro disso é violentíssimo. E a gente não tem a evidência que melhora significativamente o risco de contágio”, afirma o CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, que participou de webinar do JOTA. “A passagem, se for nessa linha, vai se encarecer brutalmente, e vamos penalizar muito qualquer recuperação. Talvez tenhamos que fazer, mas hoje defendemos que não há informação suficiente para fazer”.

Segundo ele, a retomada nos voos internacionais será mais lenta. “Vai ser um mercado muito menor, vai ser um mercado diferente”, diz.

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A Latam Brasil está em contato com sindicatos e traça estratégias para se adequar à nova realidade. “Nenhuma companhia aérea vai sobreviver sem fazer adequações no seu tamanho”, avalia Cadier.

A Latam mantém contato com o BNDES e bancos privados desde o fim de março para buscar capital de giro, mas até agora não houve uma resolução: “continuamos acreditando que nas próximas semanas vamos conseguir fechar essa ajuda para que a recuperação seja mais rápida, porque senão a recuperação vai ser lenta e dolorosa”.

Um estudo feito pela Oxford Economics mostrou que a Latam tem no Brasil 21 mil empregos diretos que geram, na cadeia, quase 900 mil postos de trabalho. “É mais de 1,5% do PIB do Brasil em função de uma companhia aérea”, destaca o CEO da companhia no Brasil.

Cadier faz uma comparação do tamanho da crise de 2001, gerada pelos ataques terroristas nos Estados Unidos, e a que estamos vivendo agora. “A gente está enfrentando uma coisa que não podia se imaginar, e o 11 de setembro foi um soluço perto do que estamos vivendo hoje”, diz. “No 11 de setembro, muitas medidas foram tomadas naquele momento pelo risco de atentado, e algumas perduraram, outras não”, explica.

Sobre a operação durante a crise, houve um aumento de importância no transporte de cargas, inclusive com adaptações de aeronaves. “Começamos a pegar aviões de transporte de passageiros, retirando assentos, preparando esses aviões para transportar carga”, diz. “Pegamos pelo menos três aviões nossos, daquele 777 de longo curso, e a gente tirou quatro de cada cinco fileiras de banco para acomodar o máximo de carga em cima”.

Para otimizar os transportes de cargas vindas da China, houve mudanças de regulação. “Trabalhamos de mãos dadas com a Anac, porque a gente teve que repensar nossos limites de regulação para poder voar até a China”, lembra Cadier.

Excesso de judicialização no mercado aéreo

Em 2019, a Latam gastou no Brasil R$ 250 milhões com indenizações de passageiros que entraram na Justiça. De acordo com o CEO da companhia aérea, o número vinha se acelerando antes da crise, o que dificulta a entrada de novos players no país. “Isso assusta muitas empresas, que olham para o Brasil e pensam: ‘é muito complexo operar nesse ambiente”, afirma.

“O Brasil tem um mercado com nível de judicialização que não se compara a nenhum outro mercado onde a Latam opera”, lembra. “No Brasil, temos mais de 99% das ações na Justiça do grupo Latam, apesar de a operação brasileira ser 50% da Latam como um todo”.

Questionado sobre melhorias que o Brasil precisa ter no setor aéreo, listou três pontos como prioritários: repensar eficiência da tripulação, rever carga de impostos sobre combustíveis e as tarifas gerais do setor.

Acordo com Azul

A Latam e a Azul anunciaram nessa terça-feira (16/6) um acordo de compartilhamento de voos, chamado de codeshare, e de programas de milhagem. “O codeshare que a gente anunciou na terça-feira será provavelmente implementado durante o mês de agosto”, revela o CEO da Latam Brasil.

“São 50 rotas, nesse momento inicial, em que a gente parte conectando as redes para os nossos passageiros”, explica. “Isso traz mais opção de compra e uma experiência de voo mais tranquila. Fica mais fácil para atender no aeroporto e via call center, porque vemos todo o trecho do passageiro”, diz. “Pode gerar mais venda, que é o que estamos buscando no momento”.

Seria um primeiro passo para fusão entre Latam e Azul? “Acho que não, é difícil falar de fusão a uma altura dessa do campeonato”.

Chapter 11

A Latam Brasil não foi incluída no processo de recuperação judicial da companhia. O pedido foi feito no fim de maio nos Estados Unidos, Chile, Peru, Colômbia e Equador. Mesmo assim, há um impacto nas operações aqui no país, explica Jerome Cadier, porque muitos contratos de leasing e dos passivos financeiros estão na holding.

“Apesar de a intenção do Chapter 11 nos Estados Unidos e da recuperação judicial no Brasil serem parecidos, que é recuperar a empresa, fazer com que ela continue operando enquanto renegocia seus passivos, a realidade é um pouco diferente”, avalia. “A gente vê um processo de recuperação judicial aqui que tende a não ter a mesma quantidade de empresas que entraram e saíram da recuperação judicial de forma positiva”.

A Latam aderiu ao Chapter 11 com mais de US$ 1,3 bilhão em caixa. “Isso ajuda, faz com que a duração desse período seja a menor dor possível”, diz. Além disso, acionistas da companhia sinalizaram que estavam dispostos a viabilizar uma linha de US$ 900 milhões de financiamento. “O tamanho de queda de vendas é tão brutal, que quanto mais cedo cada companhia tomar iniciativa para se adequar a essa nova realidade, melhor”.

Webinars

A conversa com Jerome Cadier faz parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando para discutir os efeitos da pandemia na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.

Entre os convidados, já participaram do webinar estão o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o apresentador e empresário Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.

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