WEBINAR DO JOTA

Flávio Dino: ‘democracia está gravemente em risco’

Governador do Maranhão diz que Bolsonaro tenta impor padrão de sociedade oposto ao que a Constituição preconiza

Flávio Dino
Flávio Dino, governador do Maranhão / Crédito: Divulgação PCdoB

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou em webinar do JOTA que “a democracia está gravemente em risco”. Nas palavras dele: “temos um chefe de governo que tenta impor um padrão de funcionamento da sociedade oposto ao que a Constituição preconiza”.

O governador lembrou do protesto no último domingo em frente ao Palácio do Planalto e disse que um chefe de Estado não pode assistir a profissionais de imprensa sendo agredidos. “Vejo sinais preocupantes que não são necessariamente retóricos. O chefe de Estado exerce poderes materiais, fáticos e também simbólicos”, complementou.

Ex-deputado federal, Flávio Dino avalia que as atitudes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terão consequências jurídicas e políticas, mas não agora. “Temos um presidente investigado pelo Supremo Tribunal Federal, então é claro que isso terá um desdobramento no próprio Supremo e ensejará um debate no Congresso, mas não agora”, diz. “Há uma ansiedade normal, dada a gravidade dos fatos. É preciso entender que o processo político tem o seu encadeamento lógico e não haverá desfecho agora”.

Durante o webinar, Dino foi questionado se não seria possível a formação de uma frente política ampla baseada em uma agenda propositiva, e não em um personagem. “É mais do que possível, é necessário”, respondeu. “No estágio atual, não há direita e esquerda, mas sim civilização e barbárie, e bom senso e insanidade. É preciso criar a corrente do bom senso”.

Segundo ele, a dimensão dos desafios trazidos pela pandemia criou embriões dessa frente ampla. “Por exemplo, temos hoje entre os governadores mais unidade do que tínhamos há três meses”, lembrou. “Personagens de concepção políticas diferentes, como eu e outros governadores do Nordeste, agimos hoje com muita convergência com o governador de São Paulo (João Doria), do Pará (Hélder Barbalho), do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite), que não são do campo da esquerda”.

Em relação à interlocução com o Ministério da Saúde, Dino entende que não tem faltado diálogo, mas há uma baixa efetividade nas ações. “Há uma ausência de coordenação em âmbito nacional que prejudica muito a eficácia do trabalho de cuidado com a saúde da população”.

Falando especificamente do Maranhão, começam a valer nesta terça-feira (5/5) medidas de restrição de circulação de pessoas e veículos na Ilha do Maranhão, que engloba São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. O decreto estadual atende determinação judicial. Na avaliação do governador, as medidas ajudam de forma dupla, no convencimento e na coerção. “É preciso ter nesse momento uma atitude de seriedade e de cautela, uma vez que tratamos de bens jurídicos irreparáveis. Para quem perde um ente querido, a perda é de 100%”, disse o governador.

O estado começou a pandemia com 232 leitos exclusivos para o coronavírus e hoje tem 761. Dino ressaltou que a demanda por atendimento continua gigantesca.

Sobre a economia, afirmou que não consegue enxergar uma antinomia entre cuidar de empresas e empregos e cuidar da vida. “Uma sociedade desestruturada não consegue captar investimentos privados”, disse. “A paralisação econômica não deriva de decretos governamentais, deriva de um fato, o coronavírus”.

Com relação às contas públicas, o estado consegue lidar com gastos até maio e vai precisar de ajuda financeira da União a partir de junho. “Temos um impacto projetado em R$ 1 bilhão, abrangendo despesas acrescidas na rede de saúde e perdas de receitas”, relatou.

Webinars

A conversa com Flávio Dino fez parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando, durante a pandemia da Covid-19, para discutir os efeitos na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.

Entre os convidados, já participaram do webinar estão o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.

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