WEBINAR DO JOTA

FHC defende frente ampla para enfrentar Bolsonaro em 2022

Em webinar na Casa JOTA, ex-presidente também criticou presença em peso de militares no governo

FHC: “o aspecto mais grave aqui no Brasil é que o primeiro impulso dos que mandam não é uma visão de direita, é uma visão atrasada”. Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não considera o impeachment o mais prudente para o país neste momento e vê de forma negativa a identificação entre o atual governo e as Forças Armadas. Presidente de honra do PSDB, ele revelou que nas próximas eleições presidenciais apoiará “aquele que mais tiver condições de vencer Bolsonaro” – não necessariamente um tucano. Além disso, criticou a visita feita pelo presidente Bolsonaro ao procurador-geral da República, Augusto Aras. As declarações foram feitas durante webinar realizado na tarde desta terça-feira (26/5) na Casa JOTA.

Fernando Henrique Cardoso avalia que, do ponto de vista institucional, seria melhor o país não passar por mais um processo de impeachment. “Temos que manter o quanto possível a legalidade, o presidente é legítimo”, disse. “Ele é que pode começar a se deslegitimar se começar a atropelar muito. E espero que não o faça.”

Fernando Henrique Cardoso defende uma frente ampla para conseguir derrotar Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

“Depois das eleições municipais – que aí começa o jogo da sucessão presidencial -, eu tenderei a apoiar aquele que expresse a possibilidade de ganhar contra quem eu considero fazer tanta política errada, como o atual presidente”, revelou FHC.

“Não estou limitando ao meu partido (PSDB). Prefiro, mas chega uma hora que é preciso pensar no país”, afirmou. “Acho um erro você ficar insistindo na parcialidade quando você tem uma facção que pode se tornar majoritária outra vez e é negativa.”

Para o ex-presidente, “na situação em que estamos, o melhor é defender a democracia e a Constituição”. Afirmou ainda que “líder não é quem segue a maioria, é quem forma a maioria. E precisamos formar uma nova maioria”.

Sobre a postura do governo, avaliou que “o aspecto mais grave aqui no Brasil é que o primeiro impulso dos que mandam não é uma visão de direita, é uma visão atrasada”.

Militares

O ex-presidente fez ressalvas quanto à presença em peso de militares no Executivo. “Essa identidade é negativa, a meu ver, entre Forças Armadas e governo. Está havendo uma confusão e o presidente Bolsonaro está cada vez mais apelando para os militares, é o que ele conhece”, destacou. “É ruim para as Forças Armadas e é ruim para todos nós.”

Outro tema abordado no webinar foi a Polícia Federal, que nesta terça-feira deflagrou uma operação no Rio de Janeiro tendo como um dos alvos o governador, Wilson Witzel (PSC). “A Polícia Federal foi profissionalizada, e é muito importante isso. É até humano que haja ligações com uns e com outros, mas isso não pode dominar”, defendeu.

Um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), com relatoria do ministro Celso de Mello, investiga se o presidente Jair Bolsonaro interferiu de modo político no comando da Polícia Federal. O magistrado encaminhou um ofício à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo a apreensão do celular de Bolsonaro. A decisão está nas mãos do procurador-geral, Augusto Aras, que nessa segunda-feira (25/6) recebeu uma visita do presidente.

“Achei inapropriado o presidente da República tê-lo visitado ontem. Porque dá a impressão de que ele está querendo fazer pressão”, disse Fernando Henrique Cardoso.

Webinars

A conversa com Fernando Henrique Cardoso faz parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando para discutir os efeitos da pandemia na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.

Entre os convidados, já participaram do webinar estão o apresentador e empresário Luciano Huck, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, o ministro Luís Roberto Barroso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.

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