Uma pesquisa sobre medidas adotadas por cidades americanas em 1918, para conter as infecções por gripe espanhola, mostra que não existe um dilema entre salvar vidas e salvar a economia. De acordo com o estudo, medidas não farmacêuticas, como o isolamento, não têm impacto negativo na economia. O impacto é, na verdade, causado pela própria pandemia.
A pesquisa se chama “Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu”. Um dos autores é Emil Verner, professor assistente de finanças do MIT Sloan School of Management, que participou nessa quarta-feira (8/4) do webinar promovido pelo JOTA diariamente com autoridades e especialistas para discutir os impactos da crise do coronavírus na política, na economia e nas instituições.
O estudo apontou que as cidades que adotaram medidas restritivas mais cedo, e de maneira mais agressiva, voltaram às atividades de forma mais consistente após a pandemia. “A experiência de 1918 mostra que para proteger a economia é necessário proteger a saúde das pessoas”, diz. “As variáveis da economia durante uma pandemia funcionam diferente em relação a períodos normais, por isso medidas restritivas não trazem custos”.
Segundo Verner, “mesmo sem medidas do governo, as pessoas adotam por conta própria posturas mais restritivas e há uma queda natural no movimento dos negócios”.
Os dados mostram que a queda na atividade econômica durante uma pandemia não é motivada por ações não farmacêuticas, mas sim pelo receio das pessoas de sair de casa.
O professor ressalta que há diferenças significativas da gripe de 1918 para a pandemia da Covid-19. A gripe espanhola era mais letal na população jovem, economicamente ativa, e hoje a tecnologia permite trabalho remoto para alguns. “A tecnologia também permite ações mais pontuais, então deveríamos estar mais preparados do que em 1918 para lidar com a pandemia”, afirma.
Os testes em grande escala, de acordo com o professor, são essenciais para calibrar as ações do poder público. “Testes também serão importantes na retomada, para as pessoas saberem que estão seguras e que podem voltar às suas atividades normalmente”, destaca. “Sou um grande fã de futebol, mas só vou voltar a frequentar um jogo quando ter certeza que estou seguro”.
Para o economista ainda é cedo para saber como e quando será a retomada das atividades econômicas: “não é possível fazer nenhuma projeção no momento sobre como será a retomada da economia”.
Webinars
A conversa com Emil Verner fez parte da série de webinars diários que o JOTA está realizando, durante a pandemia da Covid-19, para discutir os efeitos na política, na economia e nas instituições. Todos os dias, tomadores de decisão e especialistas são convidados a refletir sobre algum aspecto da crise.
O convidado desta quinta-feira (9/4) será o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-MG), que conversa com o JOTA a partir das 16 horas.
Entre os convidados, já participaram o presidente do STF, Dias Toffoli, o ministro Gilmar Mendes, a presidente da CCJ do Senado, Simone Tebet (MDB-MS); o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP); o economista e presidente do Insper, Marcos Lisboa; além de representantes de instituições como a Frente Nacional de Prefeitos, a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho.