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Crise reforça necessidade de cooperação entre empregadores e empregados

Alberto Balazeiro, procurador do MPT, diz que é preciso contribuição mútua para uma redistribuição social

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Adalberto Balazeiro: “Um equívoco que se comete e tenho tentado assinalar é que empregados e empregadores não são antagônicos”. Crédito: Humberto Filho/MPT

“O negócio dos negócios são as pessoas. Cuide das pessoas que elas cuidarão dos seus negócios”, afirma Hugo Bethlem, diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente. “Neste momento [de pandemia], as empresas têm que agir como famílias”, defende. “Quando chego em casa, não vou demitir meu filho mais novo porque ele foi mal na escola”, diz. “Na hora em que a gente tem uma dor, vamos reunir todos da empresa e dizer ‘vamos dividir essa dor’, porque assim há divisão do fardo”.

O procurador-geral do Ministério Público do Trabalho, Alberto Balazeiro, também acredita que as relações precisam ser de cooperação. “Um equívoco que se comete e tenho tentado assinalar é que empregados e empregadores não são antagônicos”, destaca. “É cada um fazendo o seu papel e todos contribuindo para o que o capital consciente chama de valor compartilhado ou de redistribuição social”, explica. “A finalidade e existência da própria empresa e do trabalho é retribuir”, diz. “O futuro das relações de trabalho se baseia em conciliação e mediação”.

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O deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) prevê mudanças na economia e no Estado. “Não tenho dúvida de que será uma nova forma de produzir e uma nova forma de consumir [depois da crise]”, afirma. “Toda essa questão do liberalismo econômico já foi revista na prática. Tivemos um papel de protagonismo do Estado em todo o enfrentamento da crise”, lembra. “Ainda que eu seja defensor do liberalismo, nós sabemos que isso vai ter que ser rediscutido”, destaca. “Certamente não será aquele liberalismo do Friedman, da forma mais tradicional como foi pensada inicialmente”.

Mas será que os consumidores já vinham tendo uma postura mais consciente mesmo antes da crise? “Há pouco dados sobre consumidores. É muito cedo para falar o quanto de consciência há, por exemplo, no consumo de produtos com muito açúcar”, avalia Luciano Timm, secretário nacional do consumidor. “Há outros produtos que também são danosos à saúde e me parece que o consumidor também poderia melhorar”, diz. “Outro tema são produtos piratas, o consumidor brasileiro ainda consome muita coisa pirata”, ressalta. “Isto é um sinal de que [o consumidor] não é tão consciente assim”.

As declarações de Hugo Bethlem, Alberto Balazeiro, Arnaldo Jardim e Luciano Timm foram durante debate inaugural do ciclo de debates “Brasil Pós-Pandemia – estratégias de saída da crise”, que vai ouvir sempre representantes dos Três Poderes e da sociedade civil.

As discussões são feitas em parceria com a Paper Excellence. O debate desta segunda-feira (22/6) teve como tema “Capitalismo consciente: como equilibrar lucro com responsabilidade social?”.

Esse equilíbrio, de acordo com Hugo Bethlem, diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente, passa por uma visão de negócios norteada por determinados valores. “Acreditamos que nosso propósito é ajudar a transformar o jeito de se fazer investimento e negócios no Brasil, multiplicando os pilares que levam a uma gestão mais humana, mais ética, e mais sustentável para diminuirmos a desigualdade”, explica.

“Buscamos conectar negócios para que liguem os pontos entre o propósito, a visão estratégica e seu impacto social”, diz. “Acreditamos que o negócio é bom quando cria valor, é ético porque é baseado na troca voluntária, é nobre porque eleva a nossa existência e, principalmente, é heroico porque tira as pessoas da pobreza e gera prosperidade”.

O lucro viria como consequência de uma série de práticas. “Os negócios conscientes devem ter um propósito maior tratar todos os stakeholders de forma equânime, criar cultura e valores que garantam a perpetuidade e ter um líder consciente que cuide das pessoas e do planeta”, afirma Bethlem. “Nós entendemos que o capitalismo continua sendo a melhor forma de gerar riqueza e inclusão social das pessoas, elevando a sua dignidade”.

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Para o deputado Arnaldo Jardim, as regras a serem seguidas vão partir muito mais da sociedade do que propriamente do poder público. “Acho que as regras públicas podem até flexibilizar [a regulação], mas as normas não virão só de ditames legais”, diz. “Da onde que vem? Da sociedade, essa é a novidade. A sociedade passa a cobrar comportamentos e critérios sociais”, prevê. “Critérios de compromisso com a geração de emprego e critérios ambientais das empresas, da sua forma de investir, e das instituições, da forma de disponibilizar recursos”.

O secretário nacional do consumidor, Luciano Timm, considera fundamental rever alguns conceitos que podem engessar processos. “Por vezes, temos um rigorismo muito grande dogmático com o consumidor”, avalia. “E creio que a gente já poderia estar flexibilizando algumas coisas que no fundo vão refletir para o consumidor”, diz.

“Nos Estados Unidos a empresa não é obrigada, por lei, a aceitar a desistência de uma compra pela internet. Na Europa, há o direito de desistência em até 15 dias”, exemplifica. “Onde os produtos são em média mais baratos? Nos Estados Unidos, porque você não paga por esse direito que algumas pessoas vão exercer”, conclui.